Hidrografia de Santa Cruz
A Hidrografia de Santa Cruz
Texto por Guaraci Rosa
A análise do aspecto hidrográfico do bairro de Santa Cruz vai muito além de um mero estudo geográfico, uma vez que a relevância de seus rios e canais possui um valor histórico inestimável. Desde os tempos em que a Fazenda Santa Cruz era administrada pelos jesuítas, alguns desses cursos d'água desempenhavam um papel fundamental no escoamento de produção agrícola.
A partir do final do século XIX, Santa Cruz passou por transformações que aceleraram mudanças na sua identidade paisagística. Grandes aterros foram executados para a criação de avenidas, um ramal ferroviário foi introduzido, conjuntos habitacionais e indústrias foram construídos, entre outras intervenções.
Bacia do Cação Vermelho
A bacia do rio Cação Vermelho está situada na Zona Oeste do município do Rio de Janeiro. Essa bacia abrange os bairros de Santa Cruz, Paciência e Cosmos, na Zona Oeste do município, e possui como principais cursos d'água o próprio rio Cação Vermelho, além dos rios Cantagalo e Boi Branco. Suas nascentes encontram-se nas serras da Paciência e de Santa Eugênia.
O rio Cação Vermelho percorre um trecho de 8,1 km até encontrar o canal do Itá em Santa Cruz, que, por sua vez, deságua na baía de Sepetiba.
Rio Guandu
A bacia do rio Guandu, com uma área de drenagem de 1.385 km², estende-se por um percurso total de 48 km até sua foz. O rio Guandu tem sua origem no rio Ribeirão das Lages e passa a ser denominado desta forma a partir da confluência com o rio Santana. Seus principais afluentes incluem os rios dos Macacos, Santana, São Pedro, Poços, Queimados e Ipiranga. O trecho final retificado (colocado de forma reta) do rio Guandu é chamado canal do São Francisco.
A história dos jesuítas em Santa Cruz está profundamente ligada ao rio Guandu. Os jesuítas foram os proprietários da Fazenda Santa Cruz, que ocupava uma planície pantanosa na parte costeira até as encostas da Serra do Mar. Inspirados em técnicas holandesas, eles transformaram essa fazenda em terras produtivas através do primeiro projeto de hidráulica agrícola do Brasil. Isso envolveu a construção de extensos sistemas de canais, incluindo os canais do Itá e São Francisco, que drenavam a região entre Santa Cruz, Itaguaí e Piranema, conectando os principais rios. Além de sua função de drenagem, esses canais também serviam como vias de transporte de produtos até o porto da Ilha da Madeira, na baía de Sepetiba.
Para lidar com as variações naturais, os jesuítas ergueram diques ao longo das margens do rio Guandu e instalaram comportas conhecidas como "óculos" para controlar o fluxo de água. Essas comportas permitiam a retirada de excesso de água durante as enchentes e sua retenção durante os períodos de seca. Na área do atual bairro Jesuítas, uma ponte sobre o rio Guandu também estava equipada com esses óculos para direcionar a água conforme necessário.
Conheça mais:
Rios de Janeiro - Um manual dos rios, canais e corpos hídricos da cidade do Rio de Janeiro
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, S.. Ponte dos Jesuítas, Rio de Janeiro (RJ): uma análise de seus elementos com base na integração de registros textuais, iconográficos e petrográficos. Anais Do Museu Paulista: História E Cultura Material, n. 27, p. 1-44, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-02672019v27e06.
RIO DE JANEIRO (Município). Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Rios de Janeiro. Um Manual dos Rios, Canais e Corpos Hídricos da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: [s.n.], 2020.
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