Ponte dos Jesuítas
Construção da Ponte Dos Jesuítas
Texto por Guaraci Rosa
Sob o ponto de vista arquitetônico e de engenharia, é incontestável o impacto significativo da presença jesuítica no contexto colonial do Brasil. Um exemplo notável desse legado pode ser encontrado em Santa Cruz, nos séculos XVII e XVIII, na estrutura da Ponte ou Represa do Guandu, mais conhecida como Ponte dos Jesuítas, que pode ser considerada a maior realização da engenharia brasileira no século XVIII.
Para compreender a construção dessa ponte, é essencial observar sua localização em terras originalmente pertencentes a Cristóvão Monteiro, que mais tarde foram doadas à Companhia de Jesus, aos padres jesuítas. Desta doação, surgiria a Fazenda de Santa Cruz, que ao longo dos anos se transformou em um vasto latifúndio, alimentado por aquisições, doações, trocas e especulações de terras.
A notável característica da ponte reside em seu sistema de "óculos", projetado para permitir a drenagem do excesso de água durante as enchentes e a retenção dela durante os períodos de estiagem. Essa inovação reflete a engenhosidade e conhecimento técnico dos jesuítas.
Com a expulsão dos jesuítas em 1759, a ponte passou por várias mãos, incluindo a Coroa, o Império e, finalmente, chegou à República. Após décadas de negligência, sua importância foi redescoberta em 1933, embora não tenha sido completamente restaurada nessa época. Foi também quando a Ponte Lindolfo Collor, seguindo a mesma lógica da ponte jesuítica, surgiu, e os canais Itá e São Francisco foram recuperados graças a um projeto liderado pelo engenheiro Hildebrando de Araújo Goes.
A pavimentação da ponte consiste em sólidas lajes, popularmente conhecidas como "pé de moleque", que serviam de base para o revestimento dos arcos, apelidados de "óculos". Os padres controlavam o fluxo da água por meio de comportas de madeira. A ponte é construída em pedra talhada, conhecida como cantaria, e possui oito pinhas ornamentais em suas colunas de granito. No centro, exibe a inscrição "IHS", que representa as iniciais de "Iesus Hominum Salvator", que significa "Jesus Salvador da Humanidade". Além disso, uma inscrição em latim pode ser encontrada:
Flecte genu, tanto sub nomine, flecte viator
Hic etiam reflua flectitur amnis agua
"Dobra o joelho sob tão grande nome, viajante
Aqui também se dobra o rio em água refluente."
Em 1938, a Ponte do Guandu foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), devido à sua imponência, atraindo a admiração de geógrafos, historiadores, geólogos e entusiastas em geral.
Finalmente, em novembro de 2022, a ponte foi entregue à população, após um processo de restauração originado por inúmeras solicitações de moradores conscientes de sua importância histórica para o bairro de Santa Cruz, para a cidade do Rio de Janeiro e, por que não dizer, para todo o País.
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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Soraya. Ponte dos Jesuítas, Rio de Janeiro (RJ): uma análise de seus elementos com base na integração de registros textuais, iconográficos e petrográficos. Anais do Museu Paulista [Internet], v. 27, e06, 2019.
MANSUR, André Luís; MORAIS, Ronaldo. Fragmentos do Rio antigo. Rio de Janeiro: Edital, 2014.
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