Afonso I - O Conquistador
Afonso I (25 de julho de 1109 – 6 de dezembro de 1185), também chamado de Afonso Henriques e apelidado de "o Conquistador", foi o primeiro Rei de Portugal de 1139 até à sua morte. Anteriormente tinha servido como Conde de Portucale de 1112 até à independência do Reino da Galiza. Era filho de Henrique, Conde de Portucale e da sua mulher Teresa de Leão que, à morte do conde Henrique "ascende rapidamente ao governo do condado, o que confirma o carácter hereditário que o mesmo possuía".
Após a morte do seu pai em 1112, Afonso tomou uma posição política oposta à da sua mãe, que se aliara ao nobre galego Fernão Peres de Trava. Pretendendo assegurar o domínio do condado armou-se cavaleiro e após vencer a sua mãe na batalha de São Mamede, em 1128, assumiu o governo. Concentrou então os esforços em obter o reconhecimento como reino. Em 1139, depois da vitória na batalha de Ourique contra um contingente mouro, D. Afonso Henriques proclamou-se Rei de Portugal com o apoio das suas tropas. Ao contrário do que é dito sobre o Tratado de Zamora só tornou o Condado Portucalense independente do Reino de Leão porque a independência portuguesa só foi reconhecida, em 1179, pelo papa Alexandre III, através da bula Manifestis Probatum.
Com o apoio dos cruzados do norte da Europa conquistou Lisboa em 1147. Com a pacificação interna, prosseguiu as conquistas aos mouros, empurrando as fronteiras para sul, desde Leiria ao Alentejo, mais que duplicando o território que herdara. Os muçulmanos chamaram-lhe Ibn-Arrik ("filho de Henrique", tradução literal do patronímico Henriques) ou El-Bortukali ("o Português").
Primeiros anos
Afonso Henriques era filho de D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa, infanta de Leão, filha ilegítima do rei Afonso VI de Leão e Castela, a quem Afonso VI doara o condado de Portucale pelo casamento. Há quem defenda ainda que era filho de Egas Moniz. A data e local do seu nascimento não encontram na História informações exactas. Hoje em dia, a data que reúne maior consenso aponta para o verão de 1109. Almeida Fernandes, que defende esta hipótese indica Viseu como o local do nascimento de D. Afonso Henriques e refere a probabilidade de ter nascido em agosto. Outros, baseando-se em documentos que remontam ao século XIII, referem a data de 25 de julho do mesmo ano. No entanto, já foram defendidas outras datas e locais para o nascimento do primeiro rei de Portugal, como o ano de 1106 ou de 1111 (hipótese avançada por Alexandre Herculano após a sua leitura da "Crónica dos Godos"). Acredita-se que terá nascido e criado em Guimarães, onde viveu até 1128. Outros autores referem Coimbra como local provável para o seu nascimento.
Subida ao trono
Em 1120 D. Afonso Henriques, sob a direção do arcebispo de Braga D. Paio Mendes, tomou uma posição política oposta à da sua mãe, que apoiava o partido dos Travas e que pretendiam tomar a soberania do espaço galaico-português. O arcebispo, forçado a emigrar, levou consigo o infante que no dia de Pentecostes de 1125 se armou cavaleiro na Catedral de Zamora.
“Este ato constituía simbolicamente o seu primeiro gesto de emancipação e de oposição aos ricos-homens que apoiavam a causa de D. Teresa, subordinada à política do bispo Gelmirez de Santiago e dos poderosos Travas.”
Restabelecida a paz, voltaram ao condado. Entretanto, novos incidentes provocaram a invasão do Condado Portucalense por Afonso VII de Leão e Castela que, em setembro de 1127, cercou Guimarães, onde se encontrava Afonso Henriques, por este se recusar a prestar-lhe homenagem aquando da coroação. Prometida a lealdade ao conde pelo seu aio Egas Moniz, Afonso VII de Leão e Castela desistiu de conquistar a cidade.
Alguns meses depois, em junho de 1128, as tropas de Teresa de Leão e Fernão Peres de Trava defrontaram-se com as de Afonso Henriques na batalha de São Mamede, tendo as tropas do infante saído vitoriosas – o que consagrou a sua autoridade no território portucalense, levando-o a assumir o governo do condado.
“Com esta vitória criou-se uma dinâmica que conduziu inexoravelmente à independência de Portugal."
Consciente da importância das forças que ameaçavam o seu poder, concentrou os seus esforços em negociações junto da Santa Sé com um duplo objetivo: alcançar a plena autonomia da Igreja portuguesa e obter o reconhecimento do Reino.
Em 1139, depois de uma estrondosa vitória na batalha de Ourique contra um forte contingente mouro, D. Afonso Henriques auto proclamou-se rei de Portugal, com o apoio das suas tropas. O primeiro documento autêntico onde aparece com o título de rei data de de 10 de abril de 1140, quando assina com a fórmula "Ego Alfonsus portugalensium Rex".
“ ...não usou, entre 1128 e 1139, o título de rei, mas de 'príncipe' ou 'infante', o que significa, decerto, que não podia resolver por si próprio a questão da sua categoria política; isto é, devia admitir que ela dependesse também do assentimento de Afonso VII, que era, de facto o herdeiro legítimo de Afonso VI. Mas também não usou nunca o título de 'conde' que o colocaria numa nítida posição de dependência para com o rei de Leão e Castela."
A independência foi confirmada mais tarde, nas míticas cortes de Lamego, quando recebeu a coroa de Portugal do arcebispo de Braga, D. João Peculiar. No entanto, alguns estudos questionam a reunião destas cortes.
Reinado
Reconhecimento do reino
O reconhecimento do Reino de Leão e de Castela ocorreu em 1143 com o tratado de Zamora e ficou a dever-se ao desejo de Afonso VII de Leão e Castela em adquirir o título de imperador de toda a Hispânia e, como tal, necessitar de reis enquanto vassalos. Desde então, Afonso I procurou consolidar a independência por si declarada. Fez importantes doações à Igreja e fundou diversos conventos.
Procurou também conquistar terreno a sul, povoado então por mouros: Leiria em 1135 (1145, conquista final) usando a técnica de assalto; Santarém em 1146 (1147, conquista final), também utilizando a técnica de assalto; Lisboa (onde utilizou o cerco como táctica de conquista, graças à ajuda dos cruzados), Almada e Palmela em 1147, Alcácer em 1160 e depois quase todo o Alentejo, que posteriormente seria recuperado pelos mouros, pouco antes de D. Afonso morrer (em 1185).
Em 1179 o Papa Alexandre III reconheceu Portugal como país independente e vassalo da Igreja, através da bula Manifestis Probatum.
Cerco de Badajoz
De 1166 a 1168, D. Afonso Henriques apoderou-se de várias praças pertencentes à coroa leonesa. Fernando II de Leão encontrava-se a repovoar Ciudad Rodrigo e o português, suspeitando que o seu genro estava a fortificar a cidade para o atacar, enviou um exército comandado pelo seu filho, o infante D. Sancho, contra aquela praça. O rei leonês foi em auxílio da cidade ameaçada e derrotou as tropas portuguesas, fazendo um grande número de prisioneiros.
Em resposta, D. Afonso Henriques entrou pela Galiza, tomou Tui e vários outros castelos, e em 1169 atacou Cáceres. Depois voltou-se contra Badajoz na posse dos sarracenos, mas que pertenceria a Leão, conforme o acordado no tratado de Sahagún assinado entre aquele reino e Castela.
Não obstante, sem respeitar estas convenções nem os laços de parentesco que o uniam a Fernando, o rei português cercou Badajoz e assim conquistar esse território para Portugal. Quando os muçulmanos já estavam cercados na alcáçova, Fernando de Leão apresentou-se com as suas hostes e atacou D. Afonso nas ruas da cidade. Apercebendo-se da impossibilidade de manter a luta, Afonso terá tentado fugir a cavalo, mas ao passar pelas portas ter-se-à ferido na coxa contra um dos ferros que a guarneciam. Fernando tratou o seu sogro prisioneiro com nobreza e generosidade, chamando os melhores médicos para o tratar.
Esta campanha teve como resultado um tratado de paz entre ambos os reinos, assinado em Pontevedra, e em virtude do qual Afonso foi libertado, com a única condição de devolver a Fernando as cidades estremenhas (da Estremadura espanhola) tais como Cáceres, Badajoz, Trujillo, Santa Cruz, Monfragüe e Montánchez, que havia conquistado a Leão. Estabeleciam-se assim as fronteiras de Portugal com Leão e a Galiza. E mais tarde, quando os muçulmanos sitiaram Santarém, o leonês auxiliou imediatamente o rei português.
A regência dos filhos
Após o Cerco de Badajoz de 1169, na qual Afonso teria ficado gravemente debilitado, em resultado de uma ferida numa perna, foi instaurado um conselho de regência para governar em nome do rei incapacitado. A regência ficou a cargo dos filhos do rei que ainda se encontravam, àquela data, no reino: os infantes Sancho e Teresa de Portugal. Surgiu com bastante frequência na documentação desta altura, um bastardo, que adquiria aqui um estatuto equivalente ao de infante legítimo: Fernando Afonso.
Apesar Sancho ser a cabeça da regência, vários relatos confirmam a presença forte deste bastardo e o desejo, por parte da nobreza de corte, de inutilizar Fernando e consolidar a regência de Sancho. Em setembro de 1172 Fernando passou a servir o regente, segundo uma doação a Monsanto na qual Afonso I sugeriu, pela primeira vez, uma sucessão por via feminina. A partir de 1173, Afonso Henriques pareceu concretizar, em parte, esta possibilidade ao entregar a regência conjunta do reino a Sancho e a Teresa, declarando-os co-herdeiros e com casa própria. Teresa aparece constantemente na documentação desde esta data, chegando a fazer doações sozinha.
A partir de 1174, Afonso afasta-se definitivamente dos assuntos do reino, muito provavelmente por doença, sobressaindo ainda mais a partir desta altura o papel dos co-regentes. Teresa e Sancho partilharam o governoː Teresa desempenhava as funções administrativas e Sancho encarregava-se da atividade bélica. E era esta atividade que a infanta, filha de Afonso Henriques, desempenhava quando chegaram a Portugal os emissários de Filipe, Conde da Flandres, para obter de Sancho o consentimento para o casamento da irmã com um dos mais importantes nobres franceses. O seu casamento com qualquer príncipe peninsular poderia significar a perda da independência de Portugal, mas mesmo para esta proposta vinda de fora do ambiente peninsular fez acordo com Sancho para o deixar como único sucessor.
Morte e legado
Após o incidente de Badajoz, a carreira militar de D. Afonso Henriques praticamente terminou. A partir daí dedicou-se à administração dos territórios com a co-regência do seu filho D. Sancho. Procurou fixar a população, promoveu o municipalismo e concedeu forais. Contou com a ajuda da ordem religiosa dos cistercienses para o desenvolvimento da economia, predominantemente agrária.
O legado do seu reinado foi, entre outros:
A fundação da nacionalidade, reconhecida pelo papado e pelos outros reinos da Europa;
A pacificação interna do reino e alargamento do território através de conquistas aos mouros empurrando as fronteiras do Condado Portucalense para sul;
A fundação do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em 1131;
Morreu aos 76 anos, em 1185, provavelmente por problemas do coração, senilidade, aterosclerose ou cirrose. O seu túmulo encontra-se no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, em frente ao túmulo do filho D. Sancho I;
Foi impressa uma nota de 1.000$00 Chapa 7 de Portugal com a sua imagem.
Boa relação com judeus
O reinado de Afonso Henriques ficou marcado pela tolerância para com os judeus. Estes estavam organizados num sistema próprio, representados politicamente pelo grão-rabino nomeado pelo rei.
O grão-rabino Yahia Ben Yahia foi mesmo escolhido para ministro das Finanças de Afonso Henriques, responsável pela coleta de impostos no reino. Com esta escolha teve início uma tradição de escolher judeus para a área financeira e de manter um bom entendimento com as comunidades judaicas, que foi seguida pelos seus sucessores.
Títulos e estilos
1109 – 24 de Abril de 1112: Dom Afonso Henriques
24 de Abril de 1112 – 25 de Julho de 1139: Afonso, Conde de Portucale
25 de Julho de 1139 – 6 de Dezembro de 1185: Sua Mercê, El-Rei de Portugal
O estilo oficial de D. Afonso Henriques enquanto Rei de Portugal:
Pela Graça de Deus, Afonso I, Rei dos Portugueses
(Em Latim: Dei Gratiae, Rex Portugalensium)
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