Sancho I - O Povoador

06/12/1185View on timeline

Sancho I (Coimbra, 11 de novembro de 1154 – Santarém, 26 de março de 1211), apelidado de Sancho, o Povoador, foi Rei de Portugal de 1185 até morrer. Era filho do rei Afonso I de Portugal e da sua mulher Mafalda de Saboia. Promoveu e apadrinhou o povoamento dos territórios do país — destacando-se a fundação da cidade da Guarda, em 1199, e a atribuição de cartas de foral na Beira e em Trás-os-Montes: Gouveia (1186), Covilhã (1186), Viseu (1187), Bragança (1187), São Vicente da Beira (1195) e Belmonte (1199), povoando assim áreas remotas do reino, em particular com imigrantes da Flandres e da Borgonha.

Sancho I

Primeiros anos

Quinto filho do monarca Afonso Henriques, foi batizado com o nome de Martinho, por haver nascido no dia do santo Martinho de Tours. À morte do seu irmão mais velho, D. Henrique, quando Martinho contava apenas três anos de idade, e não podendo reinar, deu-se uma alteração da sua onomástica para um nome mais hispânico, ficando desde então Sancho Afonso.

A regência do reino, em conjunto com a irmã

Em 15 de agosto de 1170 Sancho foi armado cavaleiro pelo seu pai logo após o acidente de D. Afonso Henriques em Badajoz - gravemente ferido numa perna. É nesta altura instaurado um conselho de regência para governar em nome do rei incapacitado. A regência ficou a cargo dos filhos que ainda se encontravam, àquela data, no reino: Sancho e a sua irmã Teresa (que surge com este papel a partir de 1173). Também surge com bastante frequência na documentação desta altura, com eles, um bastardo, que adquiria aqui um estatuto equivalente ao de infante legítimo: Fernando Afonso. Apesar de ser Sancho a cabeça da regência, várias confirmações deste ainda em vida de Afonso Henriques denunciam a presença forte deste bastardo e o desejo, por parte da nobreza de corte, de inutilizar Fernando e consolidar a regência de Sancho.

Em setembro de 1172 Fernando passou a servir o regente, segundo uma doação a Monsanto na qual Afonso I sugeriu pela primeira vez uma sucessão por via feminina, com Teresa, caso Sancho não tivesse descendência. A partir de 1173, Afonso pareceu concretizar esta possibilidade ao entregar parte das funções da regência de Sancho a Teresa, declarando-os co-herdeiros e com casa própria. Teresa passa a aparecer constantemente na documentação desde esta data, chegando a fazer doações sozinha.

Nestes primeiros tempos de Portugal enquanto país independente, muitos foram os inimigos da coroa, a começar pelo Reino de Leão que havia controlado Portugal até então. Para além do mais, a Igreja demorava em consagrar a independência de Portugal com a sua bênção. Para compensar estas falhas, Portugal procurou aliados dentro da Península Ibérica, em particular no reino de Aragão, um inimigo tradicional de Castela, que se tornou no primeiro país a reconhecer Portugal. O acordo foi firmado 1174 pelo casamento de Sancho, então príncipe herdeiro, com a infanta Dulce, irmã mais nova do rei Afonso II de Aragão.

Também a partir de 1174, Afonso afastou-se definitivamente dos assuntos do reino, muito provavelmente por doença, sobressaindo ainda mais a partir desta altura o papel dos corregentes. Teresa e Sancho partilhavam o governoː Teresa desempenhava funções administrativas e Sancho encarregava-se da atividade bélica. E é esta atividade de rainha que a infanta filha de Afonso Henriques desempenhava quando chegaram a Portugal os emissários de Filipe, Conde da Flandres, para obter de Sancho o consentimento para o casamento da irmã com um dos mais importantes nobres franceses. O seu casamento com qualquer príncipe peninsular poderia significar a perda da independência de Portugal, mas mesmo para esta proposta vinda de fora do ambiente peninsular fez acordo com Sancho para o deixar como único sucessor.

No ano de 1178, Sancho faz uma importante expedição contra mouros, confrontando-os perto de Sevilha e do rio Guadalquivir, vencendo a batalha. Com essa ação, pôs término à possibilidade de entrarem em território português.

Rei de Portugal

Com a morte de Afonso Henriques em 1185, Sancho I tornou-se no segundo rei de Portugal. Foi coroado na Sé de Coimbra e manteve essa cidade como o centro do seu reino. D. Sancho deu por finda as guerras fronteiriças pela posse da Galiza e dedicou-se a guerrear os mouros localizados a Sul. Aproveitou a passagem pelo porto de Lisboa, por parte dos cruzados da terceira cruzada, na primavera de 1189, para conquistar Silves, um importante centro administrativo e económico a Sul, com uma população estimada em 20 mil pessoas. Sancho ordenou a fortificação da cidade e construção do castelo que ainda hoje pode ser admirado. A posse de Silves foi efémera já que em 1190 Almançor cercou a cidade com um exército. Com um outro atacou Torres Novas, que apenas conseguiu resistir durante dez dias, devido ao rei de Leão e Castela ameaçar de novo o Norte.

Sancho I dedicou muito do seu esforço governativo à organização política, administrativa e económica do seu reino. Acumulou um tesouro real e incentivou a  criação de indústrias, bem como a classe média de comerciantes e mercadores. Sancho I concedeu várias cartas de foral principalmente na Beira e em Trás-os-Montes: Gouveia (1186), Covilhã (1186), Viseu (1187), Bragança (1187), São Vicente da Beira (1195), Guarda (1199), etc, criando assim novas cidades, e povoando áreas remotas do reino, em particular com imigrantes da Flandres e Borgonha. O rei é também lembrado pelo seu gosto pelas artes e literatura, tendo deixado ele próprio vários volumes com poemas. Neste reinado sabe-se que alguns portugueses frequentaram universidades estrangeiras e que um grupo de juristas conhecia o Direito que se ministrava na escola de Bolonha. Em 1192 concedeu ao mosteiro de Santa Cruz 400 morabitinos para que se mantivessem em França os monges que lá quisessem estudar.


Maravedi (morabitino) em ouro com a efígie de Sancho I

Morte e posteridade

Outorgou o seu primeiro testamento em 1188/89 no qual doou à sua esposa os rendimentos de Alenquer, terras do Vouga, Santa Maria da Feira e do Porto. O último testamento foi feito em outubro de 1209 quase dois anos antes de sua morte. O seu túmulo encontra-se no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, ao lado do túmulo do seu pai.

O testamento de 1209 viria a provocar um conflito num Portugal que já à sua morte atravessava um período de turbulência. Sancho deixara às filhas Mafalda, Teresa e Santa Sancha de Portugal, sob o título de rainhas, a posse de alguns castelos no centro do país - Montemor-o-Velho, Seia e Alenquer -, com as respectivas vilas, termos, alcaidarias e rendimentos. O seu filho e sucessor, Afonso II, recusando cumprir o testamento, pois ia contra a sua política inovadora de centralização régia, acabou por ver arrastar este problema ao longo do seu reinado, marcado também por disputas nobiliárquicas entre fações que apoiavam ora o rei ora as infantas. É nesta altura que os seus filhos Fernando e Berengária vão para junta da tia Teresa, na Flandres.

Títulos, estilos, e honrarias

Títulos e estilos

11 de Novembro de 1154 – 6 de Dezembro de 1185: O Infante Martinho de Portugal

6 de Dezembro de 1185 – 26 de Março de 1211: Sua Mercê, El-Rei de Portugal

O primeiro estilo oficial de D. Sancho I enquanto Rei de Portugal:

Pela Graça de Deus, Sancho I, Rei dos Portugueses

Com a Tomada de Silves, em 1189, a titulatura régia evolui para:

Pela Graça de Deus, Sancho I, Rei de Portugal, de Silves e do Algarve

Quando os Almóadas retomam Silves, em 1191, D. Sancho volta a usar o seu estilo oficial original.

Brasão de armas do Reino de Portugal (1139-1248)
Reis de Portugal, 02, Dom Sancho I, "O Povoador"

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Published in 23/01/2019

Updated in 19/02/2021

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