Missão Artística Francesa
Missão Artística Francesa
Texto por Keila Gomes
A Missão Artística Francesa chegou ao Brasil em 1816, a convite de D. João VI. Seu principal objetivo era criar a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. Além de ter o intuito de mostrar para a Europa, então liberta do período napoleônico, certa modernidade nos trópicos, promovida tanto pela elevação da colônia a Reino Unido de Brasil e Algarves, em 1815, como a consolidação do consumo de arte e pela chegada das instituições que vieram para o Brasil na fuga da família real em 1808.
A chegada dos franceses, que perceberam na missão um emprego fora da França, sem Napoleão para patrociná-los, foi um incômodo para os artistas e intelectuais portugueses, que ficaram ressentidos em relação ao protagonismo dos artistas estrangeiros. Os portugueses, além de nutrirem certa antipatia em relação aos franceses, por conta da história da fuga da família real provocada por Napoleão Bonaparte e seu Bloqueio Continental.
Por essa razão o início das atividades na instituição foi um processo longo e conturbado. Suas instalações funcionaram, plenamente, somente dez anos depois que a missão artística chegou. As motivações foram, dentre outras, as divergências de portugueses e franceses em relação às diferenças de estilos artísticos de ambos os países - o rococó português e o francês neoclássico, o que reverberará no estilo dúbio da cidade até o início do século XX.
É importante ressaltar que o conceito de “arte” no século XIX era muito mais abrangente do que o conceito hoje em dia, pois algumas atividades que contemplavam o termo não receberiam tal significado atualmente. A “concepção de arte em vigor no Brasil colonial abrangia um campo extremamente vasto onde também, por vezes, a fronteira entre belas artes e artes mecânicas não pode ser traçada com muita nitidez. Ofícios sem relação com a atividade artística como hoje a concebemos poderiam receber a definição de arte: "artes médicas," "artes militares", estendendo a referida confusão entre os campos artístico e mecânico a outros campos, inclusive o científico.
Se pensarmos na missão artística francesa nós nos lembraremos de famosos como o pintor histórico Debret, no entanto vieram outros artistas (e mestres de ofícios) que não são tão falados nos textos, tais como: escultores e seus auxiliares arquitetos, serralheiros, gravadores de medalhas, carpinteiros e até os chamados “surradores de pele”.
Podemos perceber que existia uma preocupação da corte com a aquisição de professores e de artífices especializados em ofícios que não existiam por aqui, iniciando-se um ensino que desenvolveria novas especialidades profissionais, o que enormemente contribuiria para incrementar as atividades econômicas no Brasil.
Alguns artistas não só permaneceram em terras tropicais como se tornaram professores da Escola de Arte. Sua contribuição reverberará e terá impactos históricos até hoje no País, como o pintor Debret que inclusive retratou a presença negra no cotidiano do Rio de Janeiro.
A contribuição da missão artística foi o surgimento da erudição da arte e a formação cultural dos artistas na Terra brasilis, onde a estética se fez mais apurada para os ofícios, além da construção do poder aqui instalado. Dinamizaram a produção e o consumo cultural da corte e configuraram a nova cidade em resposta ao preceito que dizia que a missão "deveria criar condições para a implantação de uma dada modernidade em terras americanas, tida como necessária para permitir o funcionamento da administração real em seu novo ambiente."
Conheça mais:
REFERÊNCIAS
BANDEIRA et Alli. Missão Francesa. Rio de Janeiro, Editora Sextante.
DEBRET, Jean-Baptiste (1768-1848). Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Belo Horizonte e São Paulo: Itatiaia e EDUSP, 1989.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 1995.
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