Curral eleitoral
Curral eleitoral
Texto por Victor Marques
Esta expressão remonta ao período em que o voto no Brasil era público, isto é, o voto era aberto, não era secreto. Em grande parte do século XX, os coronéis políticos detinham o poder econômico e político em várias regiões do país. Muitas das vezes enviavam capangas para os locais de votação, exercendo controle sobre o processo eleitoral. Na antiga Zona Rural (atual Zona Oeste) coronéis tinham influência e manipulavam os votos e por isso essas áreas passaram a ser chamadas de "currais eleitorais".
Nesta zona do Rio de Janeiro, um intrigante cenário político se desenrolou ao redor de um Triângulo Carioca composto pelos bairros de Campo Grande, Santa Cruz e Guaratiba. Durante o início do século XX, essa região desfrutava de grande relevância, visto que, segundo o censo de 1906, uma grande parte dos eleitores da primeira república estava concentrada ali.
Por meio de práticas como o clientelismo, a compra de votos e o assistencialismo, políticos competiam pela liderança consolidando um poder que se baseava na troca de favores e nas relações pessoais. O clientelismo, em particular, envolvia a oferta de serviços e benefícios diretos à população em troca de apoio político, criando um ciclo de dependência que perpetuava o poder desses líderes.
Apesar da evolução da sociedade e do sistema político, as raízes do passado ainda influenciam o presente. Mesmo com o advento do voto secreto e a consolidação da democracia, vestígios dessas práticas de influência persistem na Zona Oeste. Políticos continuam a buscar votos por meio de promessas de benefícios diretos, perpetuando a relação de dependência entre eleitores e líderes políticos.
O "curral eleitoral" que surgiu a partir da influência do Matadouro Público de Santa Cruz e seus administradores é uma parte indissociável da narrativa política da Zona Oeste do Rio de Janeiro. À medida que a região enfrenta os desafios do século XXI, essa história serve como um lembrete das complexas relações entre poder, influência e comunidade, bem como da importância de compreender o passado para moldar o futuro político.
REFERÊNCIAS
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Domínios da História. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
COSTA, Edite Moraes da. O comércio das carnes verdes e a transformação socioeconômica de Santa Cruz com a construção do Matadouro Industrial. In: Entre o local e o global. Anais do XVII Encontro de História da Anpuh-Rio. De 8 a 11 de agosto de 2016. Instituto Multidisciplinar, UFRRJ: Campus Nova Iguaçu.
MANSUR, André Luis. O Velho Oeste carioca: História da ocupação da Zona Oeste do Rio de Janeiro (De Deodoro a Sepetiba) do século XVI aos dias atuais. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2008.
MANSUR, André Luis. O velho oeste carioca: Mais Histórias da Ocupação da Zona Oeste do Rio de Janeiro (de Deodoro a Sepetiba), do século XVI ao XXI. Vol. II. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2011.
MANSUR, André Luis. O velho oeste carioca: Outras histórias da ocupação da Zona Oeste do Rio de Janeiro (de Deodoro a Sepetiba), do século XVI ao XXI. Vol. III. 1. ed. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2016.
SANTOS, Wallace Alves dos. O rei do triângulo: liderança política de Júlio Cesário de Melo nos distritos de Campo Grande, Guaratiba e Santa Cruz na década de 1920. 2021. Dissertação (Mestrado em História Social) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - FFP, São Gonçalo, 2021.
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