Plano Museológico
A trajetória do Museu Paulista é marcada por continuidades e rupturas nas formas de fazer e difundir o conhecimento histórico. Quando foi inaugurado, em 1895, sob a direção do zoólogo Herman von Ihering (1894 a 1917), tinha como objetivo ser uma instituição dedicada, principalmente, à História Natural.
Já o segundo diretor da instituição, o historiador Afonso d’Escragnolle Taunay (1917-1945), passa a direcioná-la para o campo da História. Taunay foi o responsável pela montagem das obras do eixo monumental do Museu, que reúne pinturas e esculturas representando cenas e personagens do movimento de Independência e da formação da nação, com destaque para as bandeiras e os bandeirantes paulistas.
Essa narrativa também tinha um papel pedagógico. Ela ensinava por meio dos modelos representados nas pinturas de temas históricos, formando um dos mais potentes imaginários em torno da Independência do Brasil.
O Museu atravessou o século 20 especializando-se na História da sociedade brasileira, tanto que transferiu parte de sua coleção original para outras instituições, como o Museu de Zoologia e o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE).
Em 1963, a integração à Universidade de São Paulo fortaleceu o compromisso com a pesquisa e a educação, atividades base da última reforma institucional do Museu de 1990, sob a direção do historiador Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses (1989-1994).
Nesse momento, tornou-se um museu exclusivamente de História, especializado no campo da cultura material, com foco na sociedade brasileira em cujo recorte cronológico predominaram os acervos dos séculos 18 e 20, até 1950.
As continuidades e rupturas das gestões ao longo do tempo e as coleções existentes e adquiridas tornaram-se centrais para as pesquisas dos docentes do Museu e de outros lugares.
Ao longo da década de 1990, um grande projeto de reorganização física e documental foi iniciado, contando com a informatização dos dados. Os estudos e projetos de gestão técnica dos acervos avançaram nessas atividades de documentação e de conservação física.
As pesquisas, aliadas às experiências dos curadores e educadores da instituição a partir dos anos 2000, têm caminhado para uma reflexão mais ampla por parte das equipes do Museu, relacionada às perspectivas de ação a serem adotadas na transmissão do conhecimento histórico que vem sendo produzido mais recentemente.
Desde sempre as funções celebrativas e recordativas da Independência mantiveram-se ativas no Museu, já que o 7 de Setembro sempre mobilizou a população em torno do edifício, que foi pensado para ser um monumento em homenagem a tal data.
No entanto, os desafios começaram quando essa memória nacional, consolidada no imaginário popular, tanto em relação à Independência quanto à valorização dos paulistas, torna-se objeto da história.
Como mencionado no Plano Museológico de 2019, o discurso a respeito da identidade nacional precisou ser historicizado para ter o seu alcance, reverberações, força ideológica e limites problematizados.
Assim, o olhar crítico do presente é fundamental para revisitar narrativas criadas sobre determinados fatos históricos. O Museu possibilita essa reflexão ao oferecer um acervo pronto para ser estudado e interpretado sob múltiplas perspectivas.
A seguir, a missão e a visão da instituição, de acordo com o Plano Museológico (2019, p. 12):
“MISSÃO
Promover a educação em todos os níveis e desenvolver atividades de extensão e cultura tendo como referência o patrimônio material que coleta e conserva, por meio da produção de conhecimento científico sobre a formação histórica da sociedade brasileira.
VISÃO
Ser um Museu de História de excelência com foco na cultura material, atuando plenamente na pesquisa, no ensino e na extensão.
Na pesquisa, ser reconhecido pela produção de conhecimento na área de história e cultura material e na área de museologia pelo estabelecimento de sua política de aquisição, conservação, documentação e exposição.
No ensino, ser reconhecido pela maneira transdisciplinar própria e específica dos museus de formar alunos de todos os níveis acadêmicos e pela excelência na qualificação profissional no campo da museologia.
Na extensão, pelo potencial de comunicação com a sociedade graças às sedes que ocupa em São Paulo e em Itu, que permitem a realização de exposições e eventos culturais e acadêmicos de caráter público e de grande impacto social e formativo.”
Referência:
Plano Museológico do Museu Paulista, 2019.
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