Blocos carnavalescos
Blocos carnavalescos
Texto por Keila Gomes
Os Blocos de Santa Cruz eram formados principalmente pelas classes menos abastadas que realizavam seu próprio carnaval nas ruas. Inicialmente, o Carnaval consistia no entrudo, uma prática em que as pessoas brincavam na rua jogando bolas de cheiro compostas de fragrâncias como limão e outras águas perfumadas, incluindo líquidos duvidosos e malcheirosos, às vezes contendo urina. Essa prática não era bem vista pelas camadas mais altas, que preferiam as sociedades carnavalescas inspiradas nos carnavais de Veneza.
Em 1914, o jornal "A Época" registrou a existência de sociedades carnavalescas, cordões e ranchos em Santa Cruz, como o Triunfo da Lyra, Infantis, Progresso da Areia Branca, Flor da Mocidade em Santa Cruz e Filhos do Oceano em Sepetiba. Até a colônia Sírio-Libanesa estava envolvida, promovendo prêmios para as agremiações. Políticos locais, como Júlio Cesário de Melo, também incentivavam a população nesse sentido.
Durante os anos 30, os jornais enfatizavam as Sociedades Carnavalescas, uma vez que as escolas de samba ainda não haviam surgido na região. O carnaval local era considerado o melhor do subúrbio e era comparado aos carnavais europeus, que inspiravam os artistas locais. Contudo a falta de apoio do poder público e a distância das áreas centrais prejudicavam os 9 blocos, sociedades carnavalescas e outros grupos.
Nos anos 50, uma variedade de blocos competia por prêmios oferecidos pelo Democráticos, apresentando nomes curiosos como "Cala a Boca Etelvina", "Você só com soros", "Implorando Timbuca" e outros. Em 1953, surgiram as primeiras escolas de samba, sendo a Unidos de Caxias a pioneira a se transformar em escola de samba. Em 1954, o Bloco do Sereno, mais tarde renomeado como Bloco da Crítica, ganhou notoriedade ao expressar descontentamentos locais.
O Bloco da Crítica constituía-se de pessoas de classe média que protestavam de uma maneira bem debochada dos problemas recorrentes de Santa Cruz. Criticavam desde a programação do Cine Fátima até a distribuição de água, que era precária desde aquela época. Mesmo sendo em meados dos anos 70, não havia opressão da parte dos órgãos públicos. E é considerado um dos mais famosos blocos de Santa Cruz.
Blocos vestidos de mulher, blocos com pessoas de roupa rasgada e máscara (Pai João), assim como blocos temáticos de origem africana e indígena como o Bloco Zulu e Princesa Isabel, enriqueceram a diversidade do carnaval. Os novos moradores da região, oriundos das remoções ocorridas nos anos 1960, também contribuíram para a festividade, criando, por exemplo, o Unidos de Antares em 1978.
Em resumo, os blocos carnavalescos eram agentes de alegria para as classes menos favorecidas, promovendo um Carnaval inclusivo e democrático, que não fazia distinção de classe social. O carnaval de rua continuou a desempenhar esse papel de democratização da cultura popular ao longo dos anos.
REFERÊNCIAS
CASTILHO, G. A. de. O ultra esplêndido carnaval na Terra das Maravilhas: As artes visuais na festa de Momo do subúrbio de Santa Cruz (1904-1980). 2019. Tese (Mestrado em Artes Visuais) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.
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