Capoeira
Capoeira
Texto por Keila Gomes
A capoeira, uma forma única de expressão cultural e arte marcial, tem raízes profundas no solo brasileiro. Originada como uma manifestação da população escravizada no Brasil colonial, a capoeira surgiu como uma forma de resistência e luta por liberdade. Desenvolvida por descendentes de africanos que foram submetidos à escravidão, essa arte marcial é reconhecida por sua impressionante combinação de movimentos ágeis e complexos, incorporando chutes, rasteiras, cabeçadas, joelhadas, cotoveladas e acrobacias que podem ocorrer tanto no chão quanto no ar. Como eram proibidos de praticar qualquer tipo de luta, a música foi utilizada como uma maneira de disfarce, dessa maneira ela poderia ser percebida como uma dança.
A musicalidade é uma característica notável que distingue a capoeira de outras artes marciais. Os praticantes dessa arte não apenas dominam técnicas de luta e jogo mas também aprendem a tocar os instrumentos musicais tradicionais, como o berimbau, o atabaque e o pandeiro, enquanto entoam cânticos característicos. A musicalidade não é apenas uma parte acessória da capoeira; ela está profundamente entrelaçada com os movimentos e a energia da roda, o espaço onde os praticantes se enfrentam e interagem.
No entanto, a história da capoeira também é marcada por períodos de repressão. Durante o tempo da escravidão, quem a praticasse era castigado e mesmo após sua abolição, os praticantes de capoeira eram sujeitos a penas rigorosas. Desde 1889 até 1937, a capoeira era considerada crime de acordo com o Código Penal brasileiro, sendo punida com prisão para aqueles que a praticassem em público. Somente com a influência direta do então presidente Getúlio Vargas, que testemunhou uma apresentação e ficou impressionado, é que a proibição foi finalmente revogada em 1937.
O valor cultural e histórico da capoeira foi oficialmente reconhecido em níveis globais. Em 2008, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) registrou a "Roda de Capoeira" como um bem cultural imaterial, após um inventário realizado em diversos estados brasileiros. Em 2014, a Unesco conferiu à capoeira o título de "Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade", destacando sua importância como um elo entre passado e presente, além de ser um meio de preservar e transmitir a rica herança cultural afro-brasileira.
A capoeira continua a pulsar nas comunidades e bairros da periferia. Em Santa Cruz, não seria diferente. Incluída nas academias como modalidade de luta e em muitas praças ao redor do bairro. Exemplos como a roda que existiu na Praça Sergil, no Cesarão, testemunham a vitalidade da prática. Grupos como Abadá Capoeira, Capoeira Santa Cruz com Mestre Félix, Grupo Senzala de Capoeira com Mestre Peixinho e Grupo Giori de Capoeira, bem como a Capoeira da Arena Sandra de Sá, demonstram o compromisso contínuo em manter viva a tradição da capoeira, conectando as gerações e espalhando sua mensagem de resistência, liberdade e cultura.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890. Promulga o Código Penal. Brasília, DF: Senado, 1890. Disponível em: http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=66049. Acesso em: 5 jul. 2023.
ARAÚJO, Zulu. A afirmação da capoeira. 2011. Disponível em: https://www.gov.br/palmares/pt-br/midias/arquivos/artigos-institucionais/artigo-10.pdf. Acesso em: 2 jul. 2023.
AREIAS, Almir das. O que é capoeira. Brasília: Brasiliense, 1983.
PÁGINA Turma do Galpão Senzala. Facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/turmadogalpaosenzala/?locale=pt_BR. Acesso em: 5 jul. 2023.
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