Coretos Carnavalescos
Coretos Carnavalescos
Texto por Keila Gomes
Nos primórdios dos anos 30, os coretos de Santa Cruz ultrapassavam sua mera condição de estruturas de madeira e telhados coloridos. Eles eram a alma vibrante de uma tradição que conectava a comunidade suburbana ao espírito contagiante do Carnaval do centro da cidade. O que pareciam ser apenas plataformas para músicos eram, na verdade, palcos de uma experiência artística única, onde a música, a dança e a alegria se uniam em uma performance cativante.
Esses coretos não eram meros pontos musicais, mas verdadeiras obras de arte efêmeras. Artistas visionários como João Titio e Emílio Stein, que tinha sido aluno de Portinari, deixaram suas marcas artísticas nesses monumentos carnavalescos. Em suas mãos, os coretos se transformaram em manifestações visuais de criatividade, tornando-se muito mais do que meras estruturas. A tradição enraizou-se profundamente em Santa Cruz, onde os moradores esperavam ansiosamente a chegada do Carnaval, com os coretos trazendo a música animada e enchendo as ruas com uma atmosfera festiva. A fusão da arte e da música tornava o Carnaval um evento memorável e coletivo.
Além disso, é importante destacar a presença de artistas como Bilota e Américo Belo e Margarida Ciraudo que contribuíram significativamente para a cena artística dos coretos carnavalescos. Dentre eles, João Titio destacou-se como um dos mais proeminentes construtores dessas estruturas. Enquanto as habilidades artísticas ganhavam destaque, a sociedade carnavalesca assumia um papel fundamental, com grupos como os Democráticos, Progressistas e Furrecas, competindo para criar o coreto mais magnífico, uma competição que transcendia as fronteiras do entretenimento e se transformava em uma expressão de orgulho comunitário.
No emblemático ano de 1952, um momento de transformação aguardava Santa Cruz. As três grandes Sociedades Carnavalescas, cada uma com sua história e legado distintos, retomaram suas atividades. Os Democráticos, já ativos, haviam criado coretos em 1950 e 1951, enquanto os Progressistas, após um período de inatividade, voltaram à cena. O renascimento dos Progressistas contou com a colaboração notável de Emílio Stein entre seus apoiadores, evidenciando a ligação entre tradição e criatividade contemporânea. E não menos importante, os Furrecas ressurgiram sob a liderança de Francisco dos Santos, juntamente com os antigos membros do grupo.
Esse renascimento trouxe uma rivalidade intensa entre os clubes de Santa Cruz, culminando em um cenário único em 1952. Naquele ano, Santa Cruz abrigou não um, nem dois, mas três coretos carnavalescos distintos, marcando uma competição local sem igual nessa categoria. A intensidade da rivalidade e a dedicação das Sociedades Carnavalescas reverberaram nas ruas, onde os coretos não eram apenas estruturas, mas símbolos de uma comunidade unida em celebração.
À medida que as décadas passaram, a paisagem de Santa Cruz testemunhou transformações profundas. As tradições que antes eram enraizadas nos vibrantes coretos de Carnaval foram gradualmente afetadas por essas mudanças urbanas. O espetáculo dos coretos, que costumava preencher as ruas com alegria, música e cores, foi lentamente substituído pela evolução visual da cidade. O brilho dos coretos carnavalescos, que já foram o epicentro da celebração comunitária, deu lugar a uma nova paisagem urbana, silenciando os símbolos efêmeros que uniam a comunidade em tempos festivos.
Conheça mais:
REFERÊNCIAS
CASTILHO, G. A. de. O ultra esplêndido carnaval na Terra das Maravilhas: As artes visuais na festa de Momo do subúrbio de Santa Cruz (1904-1980). 2019. Tese (Mestrado em Artes Visuais) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.
WILD, Bianca. Eu sou da Lira! Carnavais e Heróis de Santa Cruz RJ. Recanto das Letras, 2018. Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-cultura/6244149. Acesso em: 2 jun. 2023.
0 comments
Sign in or create a free account