Clóvis
Clóvis
Texto por Keila Gomes
Vocês sabiam que os bate-bolas ou chamados de "Clóvis" vão aparecer aqui nos arredores de Santa Cruz?
O Clóvis (denominado dessa forma somente em Santa Cruz) surgiu na década de 20 juntando elementos da Folia de Reis, a feitura das máscaras de papel marché e as bexigas de boi que eram fornecidas pelo matadouro de Santa Cruz e logo depois substituídas pela capa de mortadela.
Essa fantasia que nos é bem familiar remete à parte de uma tradição carnavalesca que há muito tempo está presente nas ruas do subúrbio do Rio de Janeiro. "Vestidos de macacão, bolero, máscara, luvas, meiões e empunhando bexigas ou sombrinhas, eles se empenham o ano inteiro na confecção das fantasias e se preparam para as saídas e competições durante os quatro dias de folia”.(Veja Rio, 2017)
A prática é antiga – os primeiros registros dos clóvis na cidade são do início do século XX. O coordenador do Centro de Referência do Carnaval do Instituto de Artes da Uerj, Luiz Felipe Ferreira conta que a tradição encontrou terreno fértil no subúrbio da cidade durante o início do século XX, quando matadouros instalados na região forneciam as bexigas de bois e porcos usadas para produzir as primeiras bolas. Com a ascensão da fantasia, irão ter vários bexigueiros descendo na estação do matadouro para comprar o tal artefato que inicialmente era realmente o órgão do boi, e o seu cheiro era insuportável.
Alguns mais violentos deixavam a bexiga de molho e depois passavam sal grosso, no intuito de bater em alguém. São várias hipóteses de surgimento da fantasia: Uns remetem à criação das “pastorinhas”, grupo de mulheres que cantavam pela Folia de Reis, junto com “palhaços mascarados”. Outros, remetem à palavra da língua inglesa “clown” que significa “palhaço”. Seus Elias, o artista fazedor de máscaras, já tem outra versão:
Na década de 40, existia um rapaz que performou na frente de um bloco de pastorinhas com a bexiga, batendo sem parar no chão e que atendia pelo nome de “Clóvis”. No ano seguinte, algumas pessoas começaram a unir a bexiga e a roupa e máscara da Folia de Reis dizendo que estavam saindo igual ao "Clóvis".
Para a historiadora Cristiane Braz – responsável pela pesquisa do documentário “Carnaval, bexiga, funk e sombrinha”, do então Secretário de Cultura, Marcus Faustini –, "o bairro, que abrigava o Matadouro de Santa Cruz e o hangar de um Zeppelin na década de 1930, teve importância fundamental para o aparecimento da brincadeira. Aqui no NOPH, há registros de que alguns militares alemães, que chegavam ao Brasil em dirigíveis, contribuíram para a nomeação dos foliões".
No ano seguinte, algumas pessoas começaram a unir a bexiga e a roupa e a máscara da Folia de Reis dizendo que estavam saindo igual ao "Clóvis".
Conheça mais:
Decreto nº 35.134 de 16/02/2012
Os Bate-Bolas / Clóvis - Memórias do subúrbio carioca
REFERÊNCIA
CARNAVAL, Bexiga, Funk e Sombrinha. Marcus Vinicius Faustini. Rio de Janeiro: 2006. DVD (1h03min).
Castilho, G. A. de. O ultra esplêndido carnaval na Terra das Maravilhas: As artes visuais na festa de Momo do subúrbio de Santa Cruz (1904-1980). 2019. Tese (Mestrado em Artes Visuais). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.
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