Mineiro-Pau
Mineiro-Pau
Texto por Keila Gomes
O Mineiro Pau tem suas raízes nas plantações de café trabalhadas por escravos africanos nas cidades entre Minas Gerais e Rio de Janeiro. A dança envolve o uso de bastões de madeira por duplas, em que um ataca e o outro defende em sincronia. Os pares se movem em filas opostas ou círculos, seguindo a batida dos bastões. A música inclui instrumentos como sanfona, zabumba, pandeiro, triângulo e chocalho. Um grupo de cantores (pastorinhas) acompanha a dança com cânticos ora lembrando o ritmo da Folia de Reis, ora lembrando o ritmo do baião.
Em Santa Cruz, a dança chegou nos anos 1930 por meio de Seu Valdemar Madalena, nascido em Santo Antônio de Pádua, onde o Mineiro Pau também é mantido de geração em geração, sendo preservado pela obra social "Filhos da Razão e da Justiça", no sub-bairro com o mesmo nome da manifestação cultural.
Juntamente com outras expressões da cultura popular local, o Mineiro Pau incorpora os elementos brasileiros: negro, indígena e europeu. Isso é evidente na vestimenta dos participantes e nas palavras das canções, lembrando a expressão artística negra maculelê que também utiliza bastões de madeira na sua dança.
Após sua introdução na comunidade de Santa Cruz, houve uma forte conexão com as raízes africanas, mas após a morte de Seu Valdemar nos anos 1990, a prática do Mineiro Pau enfrentou um processo de supressão. A crescente violência social e a expansão das igrejas neopentecostais contribuíram para a diminuição das expressões culturais afro-brasileiras na região.
Segundo a pesquisadora histórica da Organização Social Filhos da Razão e da Justiça (OSFRJ), Julia Madeira, houve um processo de "demonização" da dança, com a associação do Mineiro Pau a uma manifestação africana considerada inapropriada aos olhos de Deus. Atualmente, esforços estão sendo feitos para recuperar essa tradição.
Um exemplo notável é a Comunidade do Mineiro Pau, nomeada após a dança afro-brasileira que marcou a localidade a partir do século 20. Essa expressão cultural enfrentou tentativas de apagamento e racismo religioso, mas em maio de 2023, foi oficialmente reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Cidade do Rio de Janeiro pela Câmara Municipal.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Projeto de Lei nº 1620, de 13 de junho de 2022. Autor: Vereador William Siri. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 2022.
OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; RODRIGUES, Marcelino Euzebio. A CRUZ, O OGÓ E O OXÊ: religiosidades e o racismo epistêmico na educação carioca. Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), [s. l.], 2013.
GOMES DA COSTA, Julia Madeira; ROCHA, Mirella. MINEIRO PAU: Uma encruzilhada de histórias e saberes.UFRJ 2022
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