Criação do Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal (26 de dezembro de 1927)

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Resumo

Campanha contra a broca-do-café em São Paulo, que culminou na criação do Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal.

Sugestão para o professor

Na história do capitalismo, as crises econômicas costumam começar pelo desequilíbrio na relação oferta-demanda, isto é, quando há um número maior de produtos do que consumidores dispostos a adquiri-los. A crise mundial gerada em 1929 a partir da queda brusca da Bolsa de Nova York (EUA) - evento mais conhecido como Crash de 1929 - teve início com um processo especulativo no sistema financeiro. O dia 24 de outubro de 1929 passaria para a história como a "Quinta-Feira Negra", um dia no qual a euforia com a expectativa de venda de 70 milhões de títulos de altíssimo valor deu lugar ao pânico de não haver quem comprasse esses títulos. Sem demanda pelos papéis, os preços das ações e dos títulos em negociação despencaram na Bolsa de Nova Yorque e a desconfiança no mercado financeiro se espalhou de maneira irracional por todo o mundo. Os bancos congelaram empréstimos para os setores produtivos da economia. Fábricas começaram a parar por falta de crédito, a renda nacional começou a cair, o consumo se retraiu ainda mais, as empresas não conseguiam vender seus estoques acumulados, os preços dos produtos despencaram e os lucros minguaram vertiginosamente. No Brasil, desde o Convênio de Taubaté (1906), o governo federal comprava o café excedente com dinheiro vindo de empréstimos internacionais, o que ajudava a manter o valor de mercado do produto. Contudo, o reinvestimento dos lucros do café na produção de mais café aumentou a oferta, enquanto que a demanda internacional não só não acompanhou esse ritmo, como despencou com a crise mundial. Em 1929, os empréstimos internacionais foram interrompidos e o valor de mercado do café despencou. A produção foi de quase 29 milhões de sacas, mas a exportação foi de apenas 14,5 milhões. Armazéns enormes foram construídos para estocar grandes quantidades do produto e as reservas acumuladas pelos empréstimos foram queimadas com o pagamento da dívida externa.

Detalhamento da linha do tempo do estudante 

Em 1924, o governo de São Paulo criou a Comissão de Estudo e Debelação da Praga Cafeeira, formada pelos cientistas Arthur Neiva (chefe da Comissão), Edmundo Navarro de Andrade e Ângelo da Costa Lima, entre outros. Seu objetivo era identificar e erradicar a praga que vinha assolando as lavouras de café do estado. Os trabalhos dessa Comissão foram encerrados em 1927 e, em seu lugar, foi criado o Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal, uma instituição de pesquisa de caráter permanente que tinha como objetivo estudar e difundir medidas relacionadas à defesa agrícola e animal, preparar soros e vacinas para a proteção dos rebanhos, organizar campanhas contra formigas, cupins e pragas prejudiciais à agricultura.

Broca do café

Como era de se esperar, uma lavoura de café não representa um sistema isolado de produção, nela ocorrem interações com diversos seres vivos, incluindo uma gama enorme de invertebrados. Nem todas as interações são, porém, benéficas ou neutras ao pé de café. A ocorrência desequilibrada de determinados organismos pode ser muito prejudicial ao cafeeiro e, com isso, prejudicar diretamente a produção. Historicamente, um dos maiores vilões a tirar o sono dos cafeicultores foi um minúsculo besouro.

A broca do café representa o inimigo número um do café conilon e a segunda ou terceira praga de maior importância para o café arábica. A broca decorre do ataque de pequenos besouros - Hipothenemus hampei – pertencentes à Ordem Coleoptera. As fêmeas dessa espécie fazem pequenos furos no fruto, onde depositam seus ovos. Após a eclosão, as larvas se alimentam da semente, causando redução da produção cafeeira e da qualidade da bebida. Ao atingirem idade adulta, as fêmeas fecundadas saem dos frutos remanescentes da safra anterior para começar um novo ciclo. Por isso, uma das principais estratégias de controle é preventiva, realizando colheita adequada não deixando grãos das safras passadas. Outros besouros também podem causar danos à lavoura, como brocas-dos-ramos Xylosandrus compactus e X. curtulus, responsáveis por ataques aos ramos do cafeeiro, podendo levar ao ressecamento e morte da planta.

Curiosidades

Um dos principais desafios enfrentados pelos técnicos e cientistas durante a campanha contra a broca-do-café era fazer chegar ao público leigo os conhecimentos que eles estavam produzindo a respeito do ciclo biológico do besouro Stephanoderes hampei  e sobre as formas de identificá-lo e de combatê-lo. Imaginem só, a dificuldade em "traduzir" a linguagem muitas vezes árida das ciências para uma população rural eminentemente analfabeta! Várias estratégias de divulgação científica foram experimentadas. Uma delas foi produzir material didático, com textos atraentes e ricamente ilustrados, voltados para os filhos dos pequenos agricultores, matriculados nas escolas rurais. Um exemplo desse material foi a cartilha "Histórias de um bichinho malvado", de Rodolpho von Ihering (1925). Mas, a maior novidade dessa campanha foi o uso do cinema para a difusão da ciência - e olha que o cinema só começou a se popularizar nas cidades brasileiras após a Segunda Guerra Mundial! Pois, não só foi produzido um filme sobre o modo de ataque do Stephanoderes e os meios para evitar sua disseminação, como esse filme (A Broca do Café, 1927) foi exibido em centenas de fazendas e comunidades rurais! Já pensou as técnicas de filmagem que os produtores desse filme precisaram inventar para conseguirem filmar um bichinho tão pequeno e para resumir em segundos o seu ciclo de vida, que leva semanas para se desenvolver?

Figura 70 - Besouro-da-broca (Hypothenemus hampei)

Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=26093714. Foto de L. Shyamal   

Figura 71 - Fruto do café com broca

Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=26094105 Foto de L. Shyamal  

Referências

SILVA, André Felipe Cândido da. A campanha contra a broca-do-café em São Paulo (1924-1927). História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 13, n. 4, 2006. Disponível em https://www.scielo.br/j/hcsm/a/8Fpt4RcLFGHfBT4g4kzXcSm/abstract/?lang=pt#

SILVA, A. F. C. da: A campanha contra a broca-do-café em São Paulo (1924-1927). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 13, n. 4, p. 957-93, out.-dez. 2006.

Conexão

Crise mundial - Crash de 1929

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Published in 17/07/2023

Updated in 26/07/2023

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