Cafeicultura e Meio ambiente
Resumo
A trajetória biológica do café, seus tipos e formas de produção.
Sugestão para o professor:
Sugestão de leitura
- Oeco - Orgulho nacional - https://oeco.org.br/reportagens/1012-oeco_11633/
Sugestões de vídeo
- Globoplay - Em Movimento: Café do Jacu, feito a partir das fezes da ave, é o mais raro do Brasil - https://globoplay.globo.com/v/9616479/
- Globoplay - Saiba como são produzidos os cafés gourmet https://globoplay.globo.com/v/3759733/
- Globoplay - Produtores de café aplicam técnicas de agricultura regenerativa em Divinolândia (SP) - https://globoplay.globo.com/v/10887460/
Detalhamento da linha do tempo do estudante
Cafeicultura e Meio Ambiente
O Brasil é considerado um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Se, por um lado, temos aí um motivo de grande orgulho, por outro, porém, não podemos jamais fechar os olhos para o alto preço que pagamos por esse lugar no pódio. Sobretudo a partir da década de 1960, o governo brasileiro estabeleceu diversos programas de fomento a um modelo de modernização da agricultura pautado, principalmente na expansão de nossas fronteiras agrícolas, técnicas intensivas de produção, uso de insumos químicos, mecanização das atividades do campo, além de melhoramento genético. A viabilização desse modelo, no entanto, tem como objetivo principal a rentabilidade econômica, mas sem dar a devida atenção à justiça social, meio ambiente e saúde. Assim, sedentos por uma balança comercial imediatista, ampliamos drasticamente o desmatamento de nossas florestas nativas, poluímos nossos solos e águas, colocamos em risco a saúde do produtor e do consumidor, e concentramos ainda mais as propriedades nas mãos de poucos, dessa forma contribuindo para o aumento do êxodo rural e consequente agravamento do desequilíbrio social em grandes centros urbanos.
Seguindo essa corrente fadada ao rompimento, a cafeicultura também foi vilã e vítima desse modelo de produção. No século XX, a ampliação e o estabelecimento de novas fazendas de café levaram a um notável desmatamento, especialmente da Mata Atlântica. A adoção do modelo de monocultura tende a favorecer o surgimento e proliferação de pragas e doenças já que reduz drasticamente a diversidade de inimigos naturais dos organismos causadores de problemas. Por isso, historicamente, a cultura do café é uma das que mais demandou a utilização de controle químico, como agrotóxicos e defensivos.
No final do século XX, ambientalistas do Brasil e do mundo, alarmados, passaram a ganhar um pouco mais de voz e, sobretudo após a publicação da nossa Constituição de 1988, muitos aspectos ambientais passaram a ser mais debatidos. Atualmente, práticas agrícolas nocivas ao ecossistema já não são bem-vistas nem mesmo pelo mercado. Assim, a busca por estratégias mais sustentáveis passou a ser um novo desafio à produção de alimento, inclusive do café. Apesar do controle químico ainda ser amplamente utilizado em cafezais, tem-se buscado compostos cada vez menos tóxicos e mais específicos. A redução da toxicidade representa um ganho importante no campo da saúde, sobretudo do trabalhador rural. Já o aumento de especificidade, por sua vez, representa um atenuante aos impactos ambientais, já que agem diretamente sobre as espécies alvo, com isso, afetando menos outros organismos.
Mas, será que só isso basta? Será que, mesmo depois de tanto desenvolvimento tecnológico e de estratégias de produção, ainda não somos capazes de produzir café com um pouco mais de justiça social e sem agredir a saúde humana e ambiental? A resposta para essa pergunta é: sim, somos capazes! Você, por acaso, já ouviu falar em Sistemas Agroflorestais (SAF´s)?
Os SAF´s representam sistemas diversificados de produção que permitem a redução de diversos problemas ambientais e melhoria da qualidade de vida dos agricultores. Para tanto, o cultivo do café é associado a outras culturas e ao plantio de árvores, ou seja, como seu próprio nome diz, concilia agricultura e floresta. Esse tipo de estratégia pode ser interessante em diversos aspectos. Uma produção mais diversificada, por exemplo, em oposição às monoculturas, deixa o produtor rural menos refém de oscilações de preços impostas pelo mercado ou de pragas e doenças que possam atacar um de seus cultivos. Ou seja, em caso de baixa no preço do café ou de infestações no plantio, ainda restam ao agricultor outros produtos a serem consumidos e comercializados.
Curiosidades
Café com cocô?
Já vimos que não apenas nós, seres humanos, nos interessamos por esse magnífico grão, o café. Tamanho é o interesse de vários outros animais, que muitos chegam a ser considerados pragas, como é o caso do besouro responsável pela broca-do-café. Nas serras do estado do Espírito Santo, os produtores rurais estavam perdendo o sossego por conta dos prejuízos causados pelo jacu, uma ave pertencente ao gênero Penelope. Tá, vamos simplificar: trata-se de uma ave escura e de grande porte, praticamente do tamanho de uma galinha. Apesar de ser tipicamente encontrado em áreas florestadas, os jacus, assim como nós, não resistem a um bom cafezinho e são comumente encontrados em lavouras se alimentando dos frutos do café. No trato digestivo do animal, esse fruto é parcialmente digerido e expelido junto às suas fezes. Os jacus são tão vorazes que vinham causando prejuízo à produção, deixando o chão da lavoura repleta desses grãos “encocosados”.
Figura 92 - Besouro-da-broca (Hypothenemus hampei)
Figura 93 - Fruto do café com broca
Figura 94 - Jacu (Penelope obscura)
O jacu tinha tudo para ser apenas mais uma praga dos cafezais. No entanto, de uma hora para outra, passaram a ser vistos como grandes aliados pelos cafeicultores. Eis que chega a notícia ao Brasil de que, lá para as bandas da Indonésia, estavam produzindo um dos cafés mais caros do mundo, o Kopi Luwak (café da civeta). Até aí tudo bem, mas o espanto veio ao tomarem conhecimento sobre a origem desses grãos. Revelou-se que, naquela região, um pequeno carnívoro de corpo alongado, pelo manchado e focinho pontiagudo, conhecido como Civeta (Paradoxurus hermaphroditus) também se rendia às delícias de um bom café. Algum tempo após a ingestão, os frutos eram facilmente observados parcialmente digeridos em suas fezes. E eram justamente esses grãos que viriam a produzir uma bebida de paladar e aroma complexos tão elogiada pelos apreciadores de café mundo afora. Ao tomarem conhecimento desse feito, os cafeicultores capixabas passaram a ver com outros olhos aqueles toletes defecados pelos jacus em seus quintais. E o resto da história vocês já devem imaginar. Hoje em dia, ambos, o café civeta e o café jacu, são considerados dois dos melhores e mais caros cafés do mundo.
Referências
CAPORAL, F. R.; COSTABELER, J. A. Agroecologia: alguns conceitos e princípios. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA, 2004.
CONTI, M. C. M. D. de; KITZBERGER, C. S. G.; SCHOLZ, M. B. dos S.; PRUDÊNCIO, S. H. Características físicas e químicas de cafés torrados e moídos exóticos e convencionais. B.CEPPA, Curitiba, v. 31, n. 1, p. 161-172, jan./jun. 2013. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/alimentos/article/view/32720/20775 .
FERREIRA, T., SHULER, J., GUIMARÃES, R.; FARAH, A. Introduction to coffee plant and genetics. 1-25, Londres: Editora: Royal Society of Chemistry, 2019. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/330602017_Introduction_to_Coffee_Plant_and_Genetics .
SALES, E.F.; ARAÚJO, J. B. S.; BALDI, A. Sistemas Agroflorestais e Consórcios no Estado do Espírito Santo: relatos de experiências. INCAPER, Vitória, ES: Incaper, 2018. 22 p. : il. color. – (Documentos, 254. Incaper).
SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Café: controle de pragas, doenças e plantas daninhas. Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR). — 1. ed. Brasília: SENAR, 2017. 71 p. il.; 21 cm ISBN 978-85-7664-151-3.
SILVA, A. F. C. da: A campanha contra a broca-do-café em São Paulo (1924-1927). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 13, n. 4, p. 957-93, out.-dez. 2006.
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