Início da cultura cafeeira no Brasil

17201750View on timeline

Resumo

O café iniciou sua marcha de expansão pelo território brasileiro no século XVIII. No século XIX, a planta se aclimata perfeitamente aos solos e climas do atual Sudeste, intensificando a velocidade e a intensidade da apropriação de novas terras.

Sugestão para o Professor

Assistir com os alunos ao vídeo sobre a história do café e sua chegada no Brasil, para fazer os alunos entenderem e visualizarem imagens históricas.   https://www.youtube.com/watch?v=wXpdFNe4Ejw   

Biogeografia - biomas brasileiros, questões ambientais (desmatamento), biodiversidade, Domínios Morfoclimáticos do Brasil

Detalhamento

Como marco principal da evolução do desmatamento da Mata Atlântica no século XVIII pode-se destacar a inserção da economia cafeeira, do tipo Coffea arabica, principalmente na região do Vale do Paraíba e na zona da mata mineira e sul do estado do Espírito Santo, no Sudeste brasileiro. Posteriormente, serviu como novo cultivo também de áreas rurais do Sul do país por colonos europeus. Inicialmente o Coffea arabica foi um gênero agrícola que apresentou dificuldades de adaptação às condições físico-naturais do Brasil por ser uma espécie exótica vinda das montanhas de Kaffa, na Etiópia, região próxima à fronteira com o Sudão na África. Atrelado às questões naturais, havia também a escassez de instrumentos técnicos e domínio de técnicas de cultivo sobre as práticas produtivas. O sucesso do desenvolvimento desta espécie, porém, foi possível mais tarde, após 1850, ao ser cultivado em áreas de domínios morfoclimáticos dos Mares de Morros, com relevo predominantemente arredondado e desgastado, além de altitude, clima e solo favoráveis. Destaca-se neste momento o crescimento da cafeicultura com uma prática itinerante e fortemente predatória de recursos naturais (degradação dos solos) potencializando o desmatamento da mata atlântica que até então servia de “barreira verde” em regiões de litoral. Ou seja, a cobertura vegetal tropical servia como proteção contra ataques piratas e separava o mar das minas de exploração de ouro (até então era a economia da época).

O café chega ao Brasil, via Belém do Pará, trazido da Guiana Francesa, na década de 1720, pelas mãos do sargento-mor Francisco de Melo Palheta. 

No ano de 1750 foi assinado o Tratado de Madri - acordo diplomático assinado por Portugal e Espanha. Esse documento foi assinado com o objetivo de resolver as disputas pelas fronteiras das colônias de ambos os reinos, sobretudo na América. Na ocasião, Portugal assume o poder sobre terras na porção oeste do continente sul-americano que até então pertencia à Espanha, ampliando assim a extensão territorial do Brasil.

Nas décadas seguintes, as lavouras se expandem, dirigindo-se cada vez mais ao sul. Por volta de 1760, já se tem notícias da rubiácea no Rio de Janeiro. Por essa época, com a diminuição dos rendimentos do ouro, e o aumento do consumo mundial, o preço do café para exportação torna o cultivo mais atrativo.  Na década de 1790 há registros de plantios na região onde hoje encontra-se a cidade de Resende-RJ: o café finalmente chega ao vale do rio Paraíba do Sul, onde era encontrar solos e climas perfeitos para seu desenvolvimento.

Como se percebe, o café já era cultivado no Brasil, para consumo local, desde o século XVIII. Porém, é somente no século XIX que ganha importância econômica a ponto de se tornar o principal produto da balança comercial brasileira, sendo sua produção voltada para a exportação. Isso ocorreu porque o preço do café no mercado internacional subiu. Essa valorização atraiu muitos produtores para esse tipo de cultivo, que se adaptou muito bem nas áreas de clima tropical, principalmente, nas áreas de altitude, como a do Vale do Paraíba, o que amenizava o calor. Dessa forma, o plantio do café pela técnica do sombreamento, ou seja, os pés de café ficam embaixo de árvores maiores, aproveitando de suas sombras, não se fez necessário.

O Vale do Paraíba, no início do século XIX, já possui grandes áreas de plantação cafeeira que se utilizavam das mesmas formas de organização agrícola que a cana-de-açúcar. Assim, o sistema de plantation foi mais uma vez adotado como modelo de produção agrícola no Brasil, no qual grandes extensões de terras (florestas devastadas) adotavam a monocultura do café, com a utilização de mão-de-obra escrava em seu princípio, depois priorizando o mão de obra de imigrantes em regime de colonato ou assalariados.

Dessa maneira, nota-se que a preocupação principal dos cafeicultores estava na quantidade produzida e não em sua qualidade. Portanto, o desmatamento, em parte através do fogo, era visto como uma necessidade pelos produtores de café. Por retirar a cobertura vegetal nativa, os solos que até então eram férteis por conta da própria vegetação, vão se esgotando. Assim, uma prática comum depois de anos de cultivo cafeeiro em uma área era arrendar as terras para produtores de lenha ou até mesmo para pasto. 

A técnica de abrir terrenos a partir do fogo trouxe problemas, uma vez que o seu controle é bastante complicado, principalmente em períodos mais secos. Dessa forma, muitas vezes a área aberta pela queimada era muito maior do que a que era realmente necessária para o cultivo de café. 

Somado a isso, o desmatamento também causou o aumento da erosão e o assoreamento de rios, dificultando o acesso à água em diversas localidades. No Vale do Paraíba encontra-se a bacia do Paraíba do Sul, que possui importantes rios e afluentes que foram intensamente usados no cultivo do café, sendo degradados na medida em que ocorria o desmatamento da Mata Atlântica.

Além das questões diretamente ligadas ao plantio do café, deve-se lembrar que com o dinheiro do café houve um avanço da modernização do país, com a expansão de ferrovias e o surgimento de novas áreas urbanizadas. Assim, o processo de desmatamento da Mata Atlântica é ainda mais intensificado nas áreas do Vale do Paraíba, isso porque as as regiões onde dominavam a Mata Atlântica passaram a existir plantação de café, ferrovia e cidades.

Referências

BUENO, Ricardo. A história da economia brasileira e sua influência na cultura e na sociedade, Porto Alegre: Quattro Projetos, 2011 v.2 128p. Disponível em: https://premiocnh.com.br/livros/livro2011.pdf

FREDERICO, S. Território e cafeicultura no Brasil: uma proposta de periodização. Geousp – Espaço e Tempo [Online], v. 21, n. 1, p. 73-101, abril. 2017. ISSN 2179-0892.

LOPES. P. R (et al.) Uma análise das consequências da agricultura convencional e das opções de modelos sustentáveis de produção – agricultura orgânica e agroflorestal. Revista Espaço de Diálogo e Desconexão, Araraquara, v.8, n.1 e 2. 2014.

Figura 44 - Mapa das Cortes

Fonte: https://www.arpdf.df.gov.br/wp-content/uploads/2018/03/05__MI.jpg  

Conexão

A interiorização do desmatamento

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Published in 7/07/2023

Updated in 26/07/2023

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