Primeiro mapa fitogeográfico do Brasil
Resumo
O médico e botânico bávaro Karl Friedrich Philipp von Martius publicou a Tabula Florae Brasiliensis Quinque Províncias, o primeiro mapa fitogeográfico do Brasil.
Sugestão para o professor
O professor pode comparar o tamanho que a Mata Atlântica tinha na representação botânica e espacial de meados do XIX como o tamanho de agora, utilizando os seguintes mapas:
1) Martius, C. F. P. von. (1858). "Tabula geografica brasiliae et terrarum adjacentium exhibens itinera botanicorum [et florae brasiliensis quinque provincias]. Provinciae florae brasiliensis". In: Martius, C. F. P. von, Eichler, A. W. & Urban, I. (ed.). Flora brasiliensis. Monacchi et Lipsiae: R: Oldenbourg, 1840-1906, v. 1, pars 1, fasc. 21. Disponível em
Detalhamento da linha do tempo do estudante
Qual é a importância desse mapa para o conhecimento a respeito da Mata Atlântica brasileira? Com esse mapa, Martius dividiu o país em regiões diferentes, com base na fisionomia botânica que caracterizava cada uma delas - as chamadas “províncias botânicas”. Assim, ele identificou, de forma mais ou menos precisa, o que hoje conhecemos como Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e campos do sul, batizando-os com nomes extraídos da mitologia grega antiga: "Naiade, ninfa dos rios e fontes, para a Amazônia; Hamadríade, ninfa dos bosques que morre e renasce com as árvores que lhe servem de abrigo, para a Caatinga; Dríade, outra ninfa dos bosques, para a Mata Atlântica; Oréade, ninfa das montanhas, para o Cerrado; e Napéia, ninfa dos bosques e campos, para os campos e matas do sul" (Castro, 2003, p. 9). O esquema das cinco províncias botânicas de Martius sobreviveu um século e meio, até nossos dias, devido, entre outros motivos, à sua correspondência com concepções presentes no chamado senso comum, como a distinção quase intuitiva entre “matas” (formações florestais) e campos (terrenos sem florestas). No entanto, esse tipo de distinção levou a algumas simplificações. No caso do mapa de Martius, o tamanho do que hoje conhecemos como Mata Atlântica ficou limitado, basicamente, às cordilheiras da Serra do Mar e ao litoral da Bahia. A vegetação da Serra da Mantiqueira, por exemplo, ele descreveu como “campestre” – “constituída de capins, pequenas ervas e arbustos” – porque ele “naturalizou” paisagens que foram antropizadas, isto é, foram transformadas em campos artificiais pela ação humana – sobretudo para o plantio do café. "Martius ignorava que o vale do Paraíba foi o local da primeira expansão do cultivo do café? Improvável, mas não impossível. [...] Como imaginar um rio como o Paraíba do Sul, atravessando "campos abertos", sem ao menos matas ciliares, como se isto fosse uma situação natural?" (Castro, 2003, p. 80). Isto explicaria a razão do grande contraste entre as “Dryades” de Martius – algo, talvez, em torno de 4 a 6 mil km² – e o bioma Mata Atlântica, cuja área, de 200.205 km², foi reconhecida por lei federal em 2006. No entanto, a lei que protege esse bioma da devastação indiscriminada deveria ter sido criada décadas mais cedo, pois, da cobertura vegetal “original” da Mata Atlântica, isto é, anterior a 1500, só nos restam entre 12% e 28%, a depender do método utilizado pelos cientistas para esse cálculo (Cunha, Cruz, Fonseca, 2019).
54 - Mapa da Área de Aplicação da Lei nº 11.428/06.
Referências
CASTRO, Leonardo Costa de. Da biogeografia à biodiversidade: políticas e representações da Mata Atlântica. Tese de Doutorado em Antropologia Social, 202 p. UFRJ/Museu Nacional, 2003.
CUNHA, André de Almeida; CRUZ, Carla Bernadete Madureira; FONSECA, Gustavo Alberto Bouchardet da. Mata Atlântica Legal: integrando as visões da biogeografia às políticas públicas para conservação de um hotspot de biodiversidade. Sustainability in Debate – Brasília, v. 10, n. 3, p. 337-353, dec/2019.
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