Greve dos empregados do Matadouro
Greve dos empregados do Matadouro de Santa Cruz
Texto por Thamires Siqueira
Quando pesquisamos a história de Santa Cruz nas décadas de 1880 e 1890, deparamo-nos com diversas greves no Matadouro do bairro. Para compreender as razões por trás dessas múltiplas paralisações, torna-se fundamental analisar as motivações que levaram os operários a interromperem suas atividades.
Muito se diz sobre o status social que ser funcionário do matadouro público de Santa Cruz trazia aos moradores, porém pouco se fala sobre as dificuldades ali enfrentadas, muitas delas sendo representadas através das greves realizadas pelos empregados, pois se pregava um contexto de modernidade com a fábrica, mas sem preparar o entorno para receber os novos moradores e as mudanças que ali se seguiram.
Essas greves eram geradas pelas más condições de trabalho e pela falta de pagamento, recusa as mudanças e implementações de novas regras e horários de trabalho do novo matadouro, pelas doenças a que eram expostos sem tratamento pela insalubridade e má higienização do espaço, pelo excesso de trabalho e esforço físico a que eram submetidos, e pelas dificuldades de comércio na região. Logo após sua inauguração, os funcionários e suas famílias enfrentaram dificuldades até mesmo de comprar comida, e com esses fatos ameaçavam abandonar o matadouro.
Outro motivo foi o aumento do preço da carne e a greve dos açougueiros para não pagar o alto valor cobrado, competindo pelos valores com as classes altas e baixas da população, além de com os outros açougueiros.
As falhas causadas devido à má administração do matadouro resultaram em vários escândalos que culminaram em diversas mudanças no cargo de direção. O retorno de Ferreira Nobre à Presidência da Câmara gerou não só uma grande greve de funcionários do matadouro, como a revolta dos boiadeiros e moradores locais que tiveram seus acessos também controlados por multas, gerando até mesmo denúncias aos jornais.
A confusão foi tão grande que precisou de intervenção do Ministério do Império sobre a Câmara e os vereadores, para averiguar as denúncias e se houve o uso de propinas, nepotismo e favorecimentos para encobrir os erros ali existentes no matadouro, tendo Ferreira Nobre como o líder da corrupção, por exemplo na venda de carnes do matadouro sem o pagamento das licenças e impostos previstos por lei, e outros feitos ilegais.
O matadouro público de Santa Cruz foi a principal agência de comércio das áreas rurais cariocas durante essa época, e estar à frente, mesmo através da corrupção, era vantajoso a essas pessoas, Elas não pensavam nos funcionários e nas classes mais pobres. A greve foi a forma dos trabalhadores buscarem melhores condições de trabalho e de remuneração, sendo assim a causa era justa.
REFERÊNCIAS
AMANTINO, Marcia; ENGEMANN, Carlos. Santa Cruz: de legado dos jesuítas a pérola da Coroa. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013.
COSTA, Edite Moraes. Do boi só não se aproveita o berro! O comércio das carnes verdes e a transformação socioeconômica da Imperial Fazenda de Santa Cruz com a construção do Matadouro Industrial (1870-1890). 2017. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2017.
FREITAS, Benedicto. História do matadouro municipal de Santa Cruz. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) - Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1950.
MALTA, Augusto. Trabalhadores no Matadouro. Revista do Trabalho, Rio de Janeiro, n. 4, p. 45-53, 1920.
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