Doutor Antônio Nicolau Jorge
Doutor Antônio Nicolau Jorge
Texto por Victor Marques
No final do século XIX, as imigrações sírio-libanesas para todo o Brasil compuseram o cenário nacional durante longos anos da história brasileira. Os imigrantes instalaram-se em diversas cidades do país, sendo um dos focos principais o município do Rio de Janeiro, com amplos grupos compondo também o bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste carioca, onde formaram importantes comércios locais; dentre essas famílias, os libaneses, pais do dentista e ativista comunitário Nicolau Jorge.
Antônio Nicolau Jorge nasceu no ano de 1917, passando sua infância e adolescência,acompanhando o pai em seus trabalhos como comerciante local e em sua atuação na Associação Libanesa de Santa Cruz, organização fundada por libaneses locais advindos da imigração, em sua maioria comerciantes da região, com objetivo de debater e traçar planejamentos integrados para suas atuações na cultura e comércio do bairro.
A década de 30 na área educacional seria marcada pela atuação de dez anos da Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro), fundada no Rio de Janeiro, então capital federal, cuja instituição visava especializar os jovens da alta classe média e da burguesia brasileira nas diversas áreas dos saberes, implementando na plenitude o ensino superior no país. Nicolau Jorge ingressou na então faculdade em meados de 1930, cursando o ensino de odontologia.
Na década de 40, ocorreu no âmbito legislativo uma tentativa de mudança da nomenclatura da estação "Curato de Santa Cruz", que fazia a composição da estrada de ferro, renomeando para "Canhangá", nome de local que integrava as terras hoje correspondentes ao bairro da Área de Planejamento n˚5 e também de uma agência dos Correios que existiu na região até 1900. O odontologista protagonizou junto a grupos da classe média santa-cruzense movimentações contrárias à alteração nominal. Em 1948 foi definido, nas amplas instâncias, a permanência do tradicional nome.
O ativista passou os anos 50 fomentando debates por Santa Cruz voltados à narrativa da preservação de camadas da história local, trabalhando sobre o processo da disputa de toponímia da década passada na história local.
Durante os anos 60, após o Golpe de 1964 e a implementação da ditadura empresarial-militar brasileira, no referenciado "Anos de Chumbo" no Brasil, na presidência do Marechal Arthur da Costa e Silva, com meses após a chegada da Vila Paciência, primeiro conjunto habitacional de Santa Cruz, ocorreram as comemorações do Quarto Centenário de Santa Cruz comemorando os quatrocentos anos da fundação da região, organizadas por setores do comércio local, com foco em uma pretensa valorização de contornos da memória local do bairro.
Durante os anos que prosseguiram, em sua atuação comunitária, o odontologista colaborou também em projetos com o então Grêmio Procópio Ferreira e com as Obras Sociais da Paróquia Nossa Senhora da Conceição. No ano de 1983, a convite do seu cliente Sinvaldo Souza, historiador e museólogo, Antônio Nicolau Jorge participou da fundação do Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz, em 3 de agosto do mesmo ano.
Nicolau Jorge foi eleito como o Primeiro Coordenador-Geral do NOPH, atuando por mais de dez anos na gestão da instituição, na qual, em maio de 1992, participou do I Encontro Internacional de Museus, com o NOPH sendo reconhecido como um processo ecomuseológico na Zona Oeste do Rio, e posteriormente com o reconhecimento como o primeiro Ecomuseu Comunitário da história do Brasil.
O ativista comunitário faleceu em 1994, e no ano 2000, após a inauguração da primeira parte da restauração do Palacete Princesa Isabel, seu nome designou o então inaugurado Centro Cultural de Santa Cruz, nomeado Centro Cultural de Santa Cruz Doutor Antônio Nicolau Jorge, em homenagem pelas décadas de atuação comunitária do ativista.
REFERÊNCIAS
BERCITO, Diogo. Brimos: Imigração sírio-libanesa no Brasil e seu caminho até a política. Rio de Janeiro: Fósforo, 2021.
CHAGAS, Carlos. A ditadura militar e os golpes dentro do golpe: 1964-1969: A história contada por jornais e jornalistas. Rio de Janeiro: Record, 2015.
ENGEMANN, Carlos; AMANTINO, Marcia (org.). Santa Cruz: De Legado dos Jesuítas a Pérola da Coroa. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013.
PRIOSTI, Odalice. Cavaleiro Antônio. O Quarteirão, Rio de Janeiro, nov./dez. 1994.
PRIOSTI, Odalice. Você conhece a história do Cesarão? O Quarteirão, Rio de Janeiro, jul./ago. 2012.
PRIOSTI, Walter. Dr. Antônio Nicolau Jorge: biografia de um líder comunitário. O Quarteirão, Rio de Janeiro, nov./dez. 2011.
PARTE de Santa Cruz já foi mesmo Canhangá. E existe ali, uma rua com aquele nome indígena. O Globo, Rio de Janeiro, 2 ago. 1948.
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