Festa do IV Centenário
Festa do IV centenário
Texto por Keila Gomes
O IV centenário de Santa Cruz foi uma festividade realizada pela Associação dos Filhos e Amigos de Santa Cruz (AFASC), com o apoio de políticos, alguns comércios e o Colégio Dom Othon Motta. Não se sabe ao certo o motivo da festividade do bairro, mas, coincidentemente, no ano das comemorações, houve o início das remoções e a criação do primeiro conjunto habitacional de Santa Cruz. Essas comemorações envolviam as famílias tradicionais da região, com amplo apoio dos militares, inclusive financeiramente.
De acordo com a revista comemorativa, "foi a Associação de Filhos e Amigos de Santa Cruz que abraçou a ideia patriótica e imediatamente o povo se uniu às atividades federais, estaduais e eclesiásticas (...), todos se esforçando para homenagear um passado ligado à história do Brasil." Houve até um projeto de lei que disponibilizava créditos especiais para o festejo. Na mesma revista, é levantada a ideia de transformar Santa Cruz em um município, unido a Sepetiba por razões demográficas e sociais.
Os festejos duraram um ano inteiro e incluíram homenagens a personalidades de Santa Cruz, festival de cerveja, criação de brasão heráldico, concerto musical, festas juninas, celebrações eclesiásticas, campeonato esportivo e corridas de kart e bicicleta patrocinadas pelo Jornal O Globo.
Houve um carnaval fora de época, com convites para a Unidos de Caxias e a Acadêmicos de Santa Cruz, que também receberam menções honrosas.
Também ocorreu a inauguração de uma homenagem às pracinhas na frente do Batalhão Villagran Cabrita, além de outro monumento na frente da Igreja Matriz, com a criação de uma nova praça e a presença do governador da época, Negrão de Lima, para a inauguração da cruz no Morro do Mirante.
Em resumo, a Associação dos Filhos e Amigos de Santa Cruz buscava mais do que apenas celebrar o IV centenário do bairro. Seu objetivo era consolidar o poder político, social e econômico, em consonância com a rica história tradicional e documental da região. Porém, subjacente a essa ambição, havia um sentimento de exclusividade que se tornava evidente na falta de abertura e acolhimento para a população recém-chegada.
Ao invés de dar as boas-vindas às comunidades recém-estabelecidas, havia uma perspectiva que as considerava invasoras, como se estivessem prejudicando a integridade de um bairro histórico e tradicional. Essa visão dos "Amigos de Santa Cruz" sugeria que essas novas comunidades não eram incluídas nas festividades de forma adequada e integral.
Assim, enquanto as celebrações do IV centenário refletiam uma tentativa de honrar a história de Santa Cruz, também expunham as tensões subjacentes entre a preservação do passado e a evolução do presente. A associação almejava preservar uma identidade arraigada, mas essa abordagem muitas vezes gerava divisões e afastava aqueles que buscavam fazer parte da comunidade em constante transformação.
Conheça mais:
REFERÊNCIAS
Acervo NOPH. Revista do IV centenário, 1967. Acesso em: 12 ago. 2023.
0 comments
Sign in or create a free account