André Villon
André Villon
Texto por Victor Marques
Para entendermos a grande projeção que o ator André Villon alcançou é preciso entender sua origem. Ele fez parte de uma das famílias que formaram os núcleos de poder político, cultural e comercial em mais de quatro séculos de história do bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste carioca. Os membros da família Villon expandiram-se pelas diversas camadas da sociedade do oeste do Rio de Janeiro. O processo iniciou com o proprietário de terras Victor Dumas, bisavô de André Villon, dono de uma fazenda tomada em um arrendamento da então Fazenda Imperial de Santa Cruz, em meados do século XIX, na qual as terras posteriormente tornaram-se as localidades do sub-bairro do Dumas, na geografia santa-cruzense.
Outro membro da família foi Paulo Villon, renomado paisagista francês que atuou em arquiteturas de diversos espaços geográficos fluminenses, com o seu sobrinho-neto, Victor André Villon. Os dois eram imigrantes franceses nos processos migratórios entre os anos de 1889 e 1930. Eles fixaram residência em Santa Cruz. O filho de Victor, André Villon, nasceu no ano de 1914.
Ainda na infância, no ano de 1923, o jovem Villon teve contato com a arte teatral quando compareceu a um espetáculo da Sociedade Musical Francisco Braga, instituição regional de musicistas, onde seu avô materno, Antônio Coelho de Souza, atuou na fundação.
Durante o início da década de 30, na efervescência nacional dos debates político-partidários após a Revolução de 1932, que ocorreu nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, devido às insatisfações estatais com a centralização governamental do então presidente Getulio Vargas, o artista continuou sua trajetória como amador em diversos teatros, tal como o Grêmio Procópio Ferreira.
No ano de 1938, no dia 9 de abril, o artista estreou como profissional no Teatro Carlos Gomes, pela companhia Procópio Ferreira, na peça “O Casto Boêmio”, de Franz Arnold e Ernest Bach. No mesmo ano, casou-se com a atriz Elza Gomes, e mudaram-se para o bairro de Santa Teresa, na Zona Central carioca. No percorrer do quadragenário do século XX, Villon integrou amplos grupos teatrais fluminenses, atuando com Alma Flora, Delorges Caminha e Eva Todor, colaborando também com apresentações de grupos teatrais regionais no bairro de Santa Cruz.
O ator fundou a sua própria companhia de teatro, sua gestão iniciou em 1962, com encerramento após seis anos de trabalhos ao redor do município do Rio de Janeiro. Durante esse tempo, Villon trabalhou na novela "O Rei dos Ciganos", em 1966, pela então TV Globo.
Meses após o término de sua organização, estreou a sua carreira no cinema na obra visual "Chegou a Hora, Camarada", com direção de Paulo Machado. O cenário audiovisual da década de 70 foi marcado e influenciado pelas vastas produções do então cineasta Glauber Rocha, dentre elas "Terra em Transe", de 1966, e "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro", de 1969, trazendo as temáticas da cultura popular brasileira representada nos movimentos sociais dos cangaceiros, as lutas de emancipação nas periferias nacionais do sistema capitalista, dentre outras.
Na mesma intercalação da septuagésima fileira do transe secular, André Villon atuou no programa humorístico "Deu a Louca no Show", em 1976. Um ano após, trabalhou em "Domingo é Dia de Graça", na mesma emissora, e em 1978 integrou o filme "Se segura malandro", dirigido por Hugo Carvana.
Três anos depois, Villon participou de “Chico Total”, atuando também em episódios de “Carga Pesada”; “Kika & Xuxu”; “Amizade Colorida”; “Obrigado, Doutor” e “Plantão de Polícia”, e o programa “Os Trapalhões”, todos esses na TV Globo, na década de 1980, participando também, em 1984, da adaptação para os cinemas da obra do escritor Graciliano Ramos:"Memórias do Cárcere", sendo dirigido por Nelson Pereira.
O artista faleceu em 1985, deixando um amplo legado nos âmbitos da atuação cinematográfica e teatral, na qual trouxe seus viveres artísticos por mais de 100 peças teatrais, dentre elas: “Alegro Desbum”; “Alguém Falou de Amor”; “Anastácio”; “Bonita Demais”; “Deus lhe Pague”; “A Pupila dos Meus Olhos”; “Babalu”; “Bicho do Mato”; “Os Gregos Eram Assim”: “Playboy”; “Barbeiro de Nitheroy”; “Cantada Infalível”; “A Carta”; “Colégio Interno”; “Crime Roubado”; ”Feitiço”; “Helena”; “O Maluco da Avenida”; ”Sociedade em Baby Doll”; “Três em Lua de Mel” e “ Yayá Boneca”.
Conheça mais:
Rua Ivan Villon | Canal Youtube: Professor Sinvaldo Souza
REFERÊNCIAS
ANIBAL, José. O Teatro Amador em Santa Cruz. O Quarteirão, Rio de Janeiro, maio/jun. 2001.
ANIBAL, José. O Teatro Amador em Santa Cruz. O Quarteirão, Rio de Janeiro, jul./ago. 2001.
ANDRÉ Villon: De volta à ribalta pela comunidade de Santa Cruz. O Quarteirão, Rio de Janeiro, nov./dez. 1997.
MEMÓRIAS do Cárcere. Direção: Nelson Pereira. Produção: Lucy Barreto, Nelson Pereira e Luis Barreto. Rio de Janeiro, LC Barreto productions, 1984. 1 DVD (189 min).
PENNA-FRANCA, L. Teatro Amador: a cena carioca muito além dos arrabaldes. Rio de Janeiro: Alameda, 2016.
XAVIER, Ismail. Sertão mar: Glauber Rocha e a estética da fome. São Paulo: Ed. 34, 2019.
PEDROZA, Manoela. Algumas possibilidades de acumulação fora do mercado da elite imperial brasileira no século XIX (Fazenda Imperial de Santa Cruz, Rio de Janeiro, 1808-1840). Revista Interdisciplinar, v. 4, n. 1, p. 67-85, out. 2019.
ANDRÉ VILLON. Biografia. Museu Brasileiro de Rádio e Televisão [On-line]. Disponível em: https://www.museudatv.com.br/biografia/andre-villon/. Acesso em: 13 ago. 2023
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