Sinvaldo do Nascimento Souza
Sinvaldo do Nascimento Souza
Texto por Victor Marques
No dia 3 de agosto de 1983, foi realizada a primeira reunião do Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz (NOPH), contando com a participação de camadas da população santa-cruzense. A carta de abertura foi do historiador e museólogo Sinvaldo Souza.
Nascido em 1949, no estado da Paraíba, Sinvaldo veio com a família para o Rio de Janeiro no início da década de 50. Na época, ainda Distrito Federal, da então capital da República. Ali se instalaram, a princípio, em Vendas de Varanda, fixando moradia no bairro de Santa Cruz em 1955.
No final da primeira metade do século XX, Sinvaldo estudou nas escolas municipais Professor Venâncio Filho e Professor Afro das Chagas, hoje Escola Municipal André Vidal de Negreiros. Terminou seu ensino primário na Professor Coqueiro e depois ingressou no Colégio Estadual Barão do Rio Branco.
Segundo Sinvaldo, em entrevista concedida no dia 16 de agosto de 2023 para sua filha, Tatiane Souza, na década de 60, o historiador fez parte do 79º Grupo de Escoteiros do Mar Gaspar Bertoni, realizando outros trabalhos comunitários. Em 1966, foi voluntário na ajuda de desabrigados das enchentes ocorridas no Rio de Janeiro.
Um ano depois, meses após a implementação da Ditadura empresarial-militar brasileira e a criação da Vila Paciência, primeiro conjunto habitacional do bairro, Santa Cruz comemorou o Quarto Centenário de sua fundação, com uma série de eventos que traziam a temática de camadas da história local. Nele, Sinvaldo participou e despertou o interesse por essa atuação histórica, influenciando por décadas em seu trabalho posterior.
Em 1968, alistou-se no serviço militar e foi admitido como soldado do Primeiro Batalhão de Engenharia de Combate Villagran Cabrita, na época, sob a Presidência da República no comando do governante Costa e Silva, no início do período referenciado como "Anos de Chumbo" no Brasil.
Formou-se em Licenciatura de História em 1979, pela Fundação Educacional Unificada Campograndense (FEUC) e um ano após, bacharelou-se em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Na década de 80, Sinvaldo atuou na fundação de um grupo com a perspectiva de divulgar e pesquisar a história do bairro de Santa Cruz. Os primeiros encontros realizados em sua própria casa com a participação de seus colegas professor Jorge Iriarte Kayser, e o ativista comunitário Márcio Antônio de Azevedo.
Com objetivos traçados, Sinvaldo buscou colaboração de outros amigos locais como os padres Guilherme Decaminada e Luciano Dal’Zoppo, ambos sacerdotes que atuavam na região. O pesquisador recebeu autorização para usar duas salas das obras da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, para a criação do, já definido, Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica, o NOPH.
O museólogo também contou com a ajuda de seu dentista, o comerciante local Dr. Antônio Nicolau Jorge, do historiador Benedito Freitas, dentre outras personalidades de Santa Cruz que foram convidadas para a fundação, que ocorreu em 3 de agosto de 1983.
O professor atravessou os turbulentos anos da crise econômica do Presidente Fernando Collor de Mello, os processos de implementação do Plano Real na regência presidencial do engenheiro Itamar Franco e do economista Fernando Henrique Cardoso, onde prosseguiu sua atuação comunitária de décadas, visitando então famílias de alunos do bairro de Sepetiba, com apresentação de relatórios que foram enviados ao Juizado de Menores, na época. Nos anos 2000, Sinvaldo continuou atuando no campo da pesquisa histórica em seu trabalho de valorização dos patrimônios histórico-culturais da região, onde, na mesma década, também foi criado o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), durante a presidência do ex-metalúrgico e sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva.
O pesquisador recebeu em 2018 o Título de Cidadão Honorário do Município do Rio de Janeiro, concedido pela Câmara Municipal, e nos dias atuais trabalha na Escola Municipal Joaquim da Silva Gomes, onde realiza atividades de aula-passeio, eleições para Grêmio Estudantil, elaboração do Jornal da Escola, dentre outras atuações.
Conheça mais:
Canal Youtube do Professor Sinvaldo Souza
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 11.906, de 20 de janeiro de 2009. Cria o Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM, cria 425 (quatrocentos e vinte e cinco) cargos efetivos do Plano Especial de Cargos da Cultura, cria Cargos em Comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS e Funções Gratificadas, no âmbito do Poder Executivo Federal, e dá outras providências.
Brasília, DF: Planalto [on-line], 2009. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11906.htm. Acesso em: 16 ago. 2023.
CLARA, Maria. A real história do Plano Real: Uma moeda cunhada no consenso democrático. São Paulo: e-galáxia, 2020.
SOUZA, Sinvaldo. Ata de Fundação. In: Ata de Fundação - Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica, 1, Rio de Janeiro, ATA [Ata de Fundação - Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica]. Rio de Janeiro: [s.n], 1983.
SOUZA, Sinvaldo. Entrevista com Sinvaldo Souza [Entrevista concedida a Tatiana Souza]. Tatiana Souza, [s.n], Rio de Janeiro, 16 ago. 2023.
NOPH nos seus 14 anos. O Quarteirão, Rio de Janeiro, jul./ago. 1997.
PRIOSTI, Walter; PRIOSTI, Odalice. Ecomuseu, Memória e Comunidade: Museologia da Libertação e piracema cultural no Ecomuseu de Santa Cruz. Rio de Janeiro: Camelo Comunicação, 2013.
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