Estrada Real de Santa Cruz
Estrada Real de Santa Cruz
Texto por Guaraci Rosa
Historicamente, podemos afirmar que esta é a principal estrada da cidade do Rio de Janeiro, uma vez que suas margens abrigavam diversos sítios e fazendas. Entre tantas, podemos citar a Fazenda da Mata da Paciência, a do Campinho, a do Capão do Bispo e a dos Afonsos. Com o passar dos anos, diversos bairros surgiram e cresceram em toda a sua extensão. Com o passar do tempo, o nome da estrada foi mudando, originando diferentes logradouros.
Essa importante via foi construída pelos padres jesuítas séculos atrás, com o propósito de ligar a sede da fazenda em Santa Cruz à área central da cidade. Era conhecida como o Caminho dos Jesuítas.
No ano de 1808, a família real chegou ao Rio de Janeiro. A fazenda santa-cruzense, então, não pertence mais à ordem religiosa, pois os jesuítas foram expulsos em 1759 pelo Marquês de Pombal. Em seu lugar, surge a Fazenda Real, cuja sede passou por transformações, sendo adotada por D. João como um "palácio de veraneio".
A estrada, devido à grande quantidade de buracos e atoleiros, estava intransitável, o que levou à implementação de melhorias. Com isso, uma linha de carruagens foi estabelecida, conectando a Quinta da Boa Vista a Santa Cruz.
Entre 1826 e 1827 são colocados onze marcos na estrada. O objetivo era orientar os viajantes durante o século XIX.
Durante o período real e imperial, diversos artistas percorreram essa estrada. Entre eles, estavam o austríaco Thomas Ender e o francês Debret, que, inclusive, produziram diversas gravuras retratando trechos dessa via. No entanto, quem desperta nossa maior atenção é a escritora e aquarelista inglesa Maria Graham. Seus relatos, repletos de descrições sobre os trechos do caminho, acompanhados de belas gravuras, fazem parte do livro Diário de uma viagem ao Brasil, de sua autoria.
Ao longo do século XIX, a movimentação na estrada cresceu, e suas margens foram ocupadas. Esse desenvolvimento atravessou o Primeiro Reinado (1822 - 1831), o Período Regencial (1831 - 1840), o Segundo Reinado (1840 - 1889) e finalmente culminou com a chegada da República (1889). Durante essas épocas, era comum encontrar "vendas" (armazéns) ao longo do percurso da estrada, que se tornaram pontos de referência geográfica na região. Um exemplo notável é a "Venda de Paciência".
Em alguns jornais antigos a denominação do logradouro aparece como “Estrada Imperial de Santa Cruz”, devido ao surgimento do império em 1822.
Na segunda metade do século XIX, a ferrovia chega ao Rio de Janeiro e surge o Ramal de Santa Cruz. A linha férrea vai estar presente, sempre próxima à via e, em alguns trechos, ao lado.
Em 1889 o Brasil entrou no período republicano e os novos governantes procuraram de alguma forma acabar com denominações que lembravam o período real ou imperial. A estrada vai ser “partilhada”, isto é, vão surgir novas nomenclaturas em seus diversos trechos.
Com o passar dos anos, surgem os seguintes logradouros, tendo a Quinta da Boa Vista, no bairro de São Cristóvão, como referência inicial: Estrada de Santa Cruz, Rua São Luís Gonzaga, Avenida Suburbana (atual Dom Hélder Câmara), Av. Ernâni Cardoso, Estrada Intendente Magalhães, Estrada Rio-São Paulo (trecho), Av. Santa Cruz, Av. Cesário de Melo, Rua Felipe Cardoso, entre outros.
A Avenida Cesário de Melo surgiu em 1930, sendo mais uma divisão da Estrada de Santa Cruz. Seu início é em frente à Igreja Nossa Senhora da Glória, em Santa Cruz, e termina no bairro de Campo Grande. Ela também é uma homenagem ao médico e político pernambucano, Júlio Cesário de Melo.
A rua Felipe Cardoso surgiu em 1895 por decreto estadual. Ela é a principal rua do bairro, onde está localizado o maior comércio. A rua é uma homenagem a um médico sanitarista e político que trabalhou na Fazenda de Santa Cruz. Inicialmente, era chamada de Rua ou Avenida Doutor Felipe Cardoso, mas o "doutor" foi retirado e passou oficialmente a ser chamada apenas de Rua Felipe Cardoso.
Seu início fica em frente à Igreja Nossa Senhora da Glória, no Curral Falso, e termina na estação ferroviária. Quando foi criada, seu trajeto era até a Praça Ruão.
Em 1958, a prefeitura alterou o trecho, iniciando na estação e terminando na praça, surgindo assim a Rua Dom João VI.
Nos anos 2010, foi construída na rua Felipe Cardoso, no centro do bairro, a estação final do sistema BRT (“Bus Rapid Transit”). Essa construção acabou descaracterizando o centro do bairro. Esse fator, somado ao desordenamento das vias públicas e à ausência do poder público, transformou o centro do bairro em um lugar muitas vezes intransitável.
Conheça mais:
REFERÊNCIAS
LAMEGO, Adinalzir Pereira. Ruas e logradouros de Santa Cruz. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Autografia, 2022.
MANSUR, André Luís. O velho oeste carioca: história da ocupação da Zona Oeste do Rio de Janeiro (de Deodoro a Sepetiba). 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2008.
MANSUR, André Luiz; ROSA, Guaraci. Santa Cruz nos caminhos da Independência. 1. ed. Rio de Janeiro: Edição dos Autores, 2022.
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