Favela do Rollas
Rollas: uma fazenda que virou comunidade
Texto por Guaraci Rosa
A comunidade de Rollas possui uma história distinta em relação às demais comunidades do bairro de Santa Cruz. Essas terras, que fizeram parte da Fazenda Nacional de Santa Cruz, eram propriedade da união. Seu território é delimitado pela avenida Cesário de Melo, pela rua Felipe Cardoso e pela avenida Antares
As terras da Fazenda Santa Cruz enfrentaram diversas ocupações ao longo do tempo, incluindo invasões e grilagens, especialmente no período republicano. A comunidade atual de Rollas é um exemplo notório desse processo.
A ocupação da área da "Fazenda Rollas" teve início nos anos 1960. Uma porção das terras foi arrendada pelo autoproclamado "proprietário" José Maria Rollas. Em 1966, surge João Chauboudet, que reivindica ser o verdadeiro dono das terras.
Em 1967, cerca de 300 pessoas invadem as terras da fazenda. Entre elas estão flagelados, lavradores sem-terra, desempregados e outras famílias carentes em busca de condições de vida melhores.
Chauboudet começa a agir como um grileiro, cobrando taxas dos lavradores e moradores. Aqueles que não pagam são expulsos. Em 1967, Rollas recorre à justiça e obtém a reintegração de posse das terras. Surge a Associação de Lavradores de Antares, presidida por Chauboudet, que não consegue ganhar adesão da maioria devido a discordâncias sobre sua liderança.
As disputas em torno da propriedade das terras continuam. Novamente em um processo judicial, descobre-se que Rollas era um posseiro que não pagou impostos, e as terras pertenciam à união. O fim dos anos 1960 é marcado por conflitos frequentes na comunidade, envolvendo a presença policial e a resistência dos moradores.
A década de 1970 testemunha um crescimento exponencial na população da comunidade. Muitos lavradores dividem suas terras e as vendem para outros moradores. O local passa a ser conhecido como "Favela do Rollas".
Ao longo dos anos 70, os processos de João Maria Rollas continuam nos tribunais, alternando entre pedidos de reintegração de posse e, posteriormente, busca de indenização do INCRA. Em 2000, a família Rollas finalmente obtém vitória judicial.
O poder público, como frequentemente ocorre, mostra-se ausente na construção de infraestrutura. A eletricidade só chega por volta dos anos 70. Esgoto a céu aberto é comum, e durante anos não há acesso a água encanada, sendo necessário o uso de poços. Nos anos 80, o CIEP 1º de Maio é construído, onde antes havia um campo de futebol, na avenida Antares. No início dos anos 90, um posto de saúde é inaugurado.
Nos anos 70, 80 e 90, a comunidade ganha notoriedade no bairro devido à violência relacionada ao tráfico de drogas. Poderes paralelos ao estado disputam o controle da comunidade há décadas.
A partir dos anos 2010, a comunidade passa a ser chamada de "Favela do Rodo", de acordo com o jornal O Globo. “Supostamente, os traficantes locais não gostam do nome Rollas e decidem mudá-lo.”
Atualmente, a comunidade ainda se depara com vários desafios relacionados à sua infraestrutura. Questões referentes a saneamento básico e segurança perduram constantemente. Porém os moradores mantêm uma determinação inabalável ao buscarem constantemente a melhoria de suas condições diárias e a construção de um futuro mais promissor.
REFERÊNCIAS
ARRUDA, Júlio Mourão. Lembranças e esquecimentos. A construção social da memória em Rollas. 2003. Dissertação (Mestrado em Memória Social) - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.
JORNAL DO BRASIL. Rio de Janeiro, 05 nov. 1968.
O GLOBO. Rio de Janeiro, 30 jul. 2018.
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