Antares
Antares: uma comunidade marcada pela luta
Texto por Guaraci Rosa
Desde o início da construção dos primeiros conjuntos habitacionais no bairro de Santa Cruz, uma premissa estadual se manteve inabalável: remover os moradores das favelas do Centro, parte da Zona Norte e principalmente da Zona Sul, e realocá-los para bem longe do centro nevrálgico da cidade. Esse processo, conhecido como “higienização”, visava a uma grande “limpeza urbana”, relegando várias comunidades para as margens, alegando-se que as populações carentes iriam para um “lugar melhor”.
A história da comunidade de Antares remonta a 1973, quando a COHAB (Companhia de Habitação Popular) lançou o planejamento para a construção de diversos conjuntos no Estado da Guanabara (hoje Rio de Janeiro). As obras tiveram início em 1974 e, embora a promessa governamental fosse entregar as primeiras moradias ainda naquele ano, as primeiras casas só surgiram em 1975.
Inicialmente, Antares foi apresentada como um assentamento provisório, destinado à transição. Uma promessa de um novo bairro construído pelo governo estava no papel, mas essa promessa nunca se materializou.
Os moradores de Antares, no entanto, não compartilhavam o desejo de abandonar seus lares e migrar para uma área que era predominantemente rural. Muitos deles trabalhavam na Zona Sul ou no Centro do Rio, frequentavam as praias e desfrutavam das atividades culturais nesses locais.
A comunidade de Antares se tornou o destino de muitas famílias removidas de diversas áreas da Zona Norte, Centro e Zona Sul. Grande parte dessas famílias era composta por pessoas negras, que se sentiam segregadas em um lugar onde não escolheram viver.
Uma das remoções de "indesejáveis" que gerou grande comoção ocorreu em março de 1975. O então governador Chagas Freitas morava na Rua Sacopã, no bairro da Lagoa. Na mesma rua, viviam 16 famílias em uma pequena comunidade, algumas delas com mais de quarenta anos de história na localidade. O governador ordenou a expulsão de todas essas famílias e, para garantir sua realocação em Antares, ordenou que policiais do batalhão de choque acompanhassem todo o processo.
As dificuldades em Antares foram abundantes, dadas as carências de infraestrutura. A unidade escolar era provisória, e apenas em 1976 foram inauguradas as escolas municipais (públicas), Aldebarã e Otelo de Souza Reis. O posto policial era improvisado e contava com apenas sete policiais. As casas eram pequenas e carentes de condições adequadas.
Embora as pessoas tenham sido deslocadas de seu território original, seus empregos permaneceram no Centro e na Zona Sul. As despesas com transporte consumiam boa parte do salário dos trabalhadores.
No final dos anos 1970, surge a Associação de Moradores de Antares, uma entidade crucial na comunidade, que se dedicou a ações sociais e reivindicações. Posteriormente, empenhadas por um bairro melhor, as mulheres de Antares fundaram sua própria associação. Ainda na década de 1970, surge o Bloco Carnavalesco Unidos de Antares, um marco cultural na história da comunidade.
O dia 10 de julho de 1987 ficou marcado na memória dos moradores de Antares. Após anos de reivindicações, finalmente, a localidade testemunhou a inauguração de uma estação ferroviária: a estação Tancredo Neves, nomeada em homenagem ao presidente eleito em 1985, que, infelizmente, não assumiu o cargo devido a uma doença que o levou ao falecimento. No evento, que contou com a presença de centenas de pessoas, destacou-se a participação da viúva do político, a senhora Risoleta Neves.
Esta estação é uma clara evidência da importância da união de moradores em busca de conquistas para uma localidade. É relevante ressaltar que a estação beneficia não apenas os residentes de Antares, mas também os das comunidades do Cesarão, Pantanal, Vila Paciência, 3 Pontes e Urucânia. Este empreendimento não só fortalece os laços comunitários, mas também representa um avanço significativo para o bem-estar e a mobilidade de milhares de pessoas em toda a região.
Os anos 80 e 90 testemunharam o crescimento da violência, liderada pelo tráfico de drogas. A chegada dos anos 2000 não trouxe consigo a diminuição dessa violência, com poderes paralelos disputando o domínio da comunidade.
Em meio ao cenário desafiador da pandemia de COVID-19 em 2020, emergiu a "Marginow", uma biblioteca inovadora, idealizada pelo escritor e ativista cultural local, Jessé Andarilho. Residindo na comunidade, Jessé almeja transmitir à Antares a poderosa capacidade de transformação que os livros possuem.
A comunidade de Antares no Rio de Janeiro é um exemplo de perseverança e esperança em meio a dificuldades. Sua trajetória é um testemunho vivo da resiliência e do espírito de luta dos seus moradores por uma comunidade melhor. À medida que suas vozes se unem e suas ações coletivas ganham força, Antares se torna um exemplo inspirador de como a transformação positiva é possível, mesmo nas condições mais desafiadoras.
Conheça mais:
REFERÊNCIAS
G1 RIO DE JANEIRO. Home, 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/. Acesso em: 17 ago 2023.
TERRA. Comunidade. Disponível em: https://www.terra.com.br/comunidade. Acesso em: 17 ago. 2023
Jornal do Brasil. (11 de julho de 1987). Rio de Janeiro.
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