Curral Falso
Curral Falso
Texto por Guaraci Rosa
Situada no bairro de Santa Cruz, esta localidade se destaca como uma das mais importantes da região. Estrategicamente posicionada no encontro de quatro vias essenciais - Avenida Cesário de Melo, Estrada da Pedra, Estrada de Sepetiba e Rua Felipe Cardoso, o Curral Falso não só testemunha a convergência desses caminhos, mas também abriga e dá nome à estação do BRT (Bus Rapid Transit).
A história de Santa Cruz tem suas raízes nesta localidade. No século XVI, Cristóvão Monteiro ergueu sua primeira casa da sesmaria, dando início a uma próspera plantação de arroz. Em anos posteriores, edificou a casa da fazenda e uma capela, marcando o local onde hoje se encontra a Paróquia de Nossa Senhora da Glória.
A denominação "Curral Falso" transcende os séculos, enraizada na tradição oral do bairro. "Vem desde os tempos jesuíticos, deveu-se à existência nas proximidades de um grande curral, onde os bois, após serem recolhidos, tinham a saída impedida por uma oculta cerca, posta no lugar onde haviam entrado." (Freitas, 1987, p. 348).
Na primeira metade do século XVIII, os jesuítas tomaram medidas para preservar o acesso à sede da Fazenda, instalando uma cancela e designando um vigia. Em 1818, durante o Período Joanino, um grandioso portão foi erguido, solidificando ainda mais a importância do local.
Em 1807, o nobre Antônio Dias Pavão, o Conde de Itaguaí, estabeleceu sua residência no Curral Falso. O ilustre construiu um armazém de Secos e Molhados na localidade e expandiu seus empreendimentos no mesmo ramo para Pedra de Guaratiba, Sepetiba e Santa Cruz, transformando-se num grande comerciante e posteriormente em um destacado fazendeiro em Itaguaí.
No século XIX, ergueu-se no local a sede do Posto de Fiscalização da Fazenda. Dada a sua posição estratégica como entroncamento de quatro estradas, tornou-se o epicentro de um intenso comércio, atraindo tropeiros, viajantes e mascates.
Nessa época surgiram os ranchos, uma espécie de comércio que concentrava armazéns, hospedarias e até pastos para animais. No Curral Falso, o mais famoso foi o Rancho Real, administrado por muito tempo pela Coroa e posteriormente arrendado. Os maiores clientes desse comércio peculiar eram os tropeiros.
Até meados do século XX, um tanque com uma coluna de pedra e uma bica de metal permaneciam no local, fornecendo água proveniente do morro do Mirante. Na coluna, registrava-se a data de 1883.
Nas primeiras décadas do século XX, o Curral Falso serviu como local de acampamento para tropas do exército, realizando treinamentos militares em meio às vastas áreas descampadas de Santa Cruz.
Em 31 de outubro de 1917, a prefeitura do então Distrito Federal (atual cidade do Rio de Janeiro) oficialmente reconheceu o centro dessa localidade como Largo do Curral Falso. No entanto, em 15 de setembro de 1936, a mesma prefeitura alterou o nome para Praça Nossa Senhora da Glória. Em 27 de abril de 1949, o nome foi novamente modificado para Praça Santa Cruz, título que persiste oficialmente até os dias de hoje.
Apesar das mudanças de nome ao longo dos tempos, a população mantém viva a tradição secular do Curral Falso. Pergunte a qualquer morador de Santa Cruz, e todos reconhecerão prontamente o lugar.
REFERÊNCIAS
FREITAS, Benedicto de. Santa Cruz: Fazenda Jesuítica, Real e Imperial - Vices- Reis - 1760-1821, Volume II. Rio de Janeiro: [s.l.], 1987.
RUAS.RIO. Home, 2023. Disponível em: https://ruas.rio/servicosonline/consulta.php.
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