Ramal de Austin
Ramal de Austin
Texto por Guaraci Rosa
A comunidade do "Dreno" em Santa Cruz abriga uma história fascinante que muitos de seus moradores desconhecem. Há tempos, exatamente onde a comunidade se encontra hoje, passava uma linha de trem que conectava Santa Cruz a Austin (em Nova Iguaçu), na Baixada Fluminense.
Os trens, além de transportar pessoas, desempenhavam um papel fundamental no transporte de gado para o Matadouro de Santa Cruz. Com o passar do tempo, a linha diversificou suas atividades e passou a transportar também leite e frutas entre as localidades ao longo do percurso.
Embora o ramal tenha funcionado por pouco tempo, ele ocupa um lugar importante na história ferroviária do bairro. Grande parte do trajeto foi gradualmente ocupada por residências ao longo dos anos. Se o ramal ainda existisse nos dias de hoje, certamente seria de extrema importância para a locomoção das pessoas na região.
Tudo começou em 18 de março de 1872, quando Thomaz Cochrane solicitou à Princesa Isabel a concessão de privilégio para a construção de uma linha férrea de bitola larga que ligaria Maxambomba (Nova Iguaçu) ao Curato de Santa Cruz.
Após a doação dos terrenos e a assinatura do contrato em fevereiro de 1926, as obras tiveram início em setembro do mesmo ano e avançaram rapidamente, resultando em uma extensão de 34 quilômetros. A linha atravessava Nova Iguaçu, partindo de Carlos Sampaio até a ponte do rio Guandu-Mirim. Durante o processo de construção, foram erguidas as estações de Cabuçu, Engenheiro Araripe e Engenheiro Heitor Lira, com nomes em homenagem a funcionários da EFCB (Estrada de Ferro Central do Brasil). O ramal foi inaugurado em 5 de fevereiro de 1929, cumprindo o prazo estabelecido no contrato.
A estação de Cabuçu recebeu esse nome em homenagem ao Engenho do Cabuçu, que, juntamente com o de Marapicu, constituía as duas mais importantes propriedades agrícolas do Morgado de Marapicu, instituído em 1772. O engenho contava com duzentas pessoas escravizadas e produzia anualmente 120 caixas de açúcar e cerca de 45 pipas de aguardente.
Além disso, próximo à estação de Cabuçu, foi construído um edifício da firma Guinle & Cia., destinado a acondicionar 2.400 caixas diárias de laranja para exportação. Essa região abrigava aproximadamente um milhão de laranjeiras, tornando a Baixada Fluminense, juntamente com outros locais, um centro fundamental na produção de laranjas durante o auge do século XX, incluindo bairros da Zona Oeste, como Campo Grande. Nesse ponto da linha, havia também um entroncamento com o ramal de Mangaratiba, localizado no quilômetro 30.
Apesar de ter sido inaugurado com sucesso, o Ramal de Austin operou apenas até 1932, no trecho entre Santa Cruz e Cabuçu, e continuou a ser utilizado para trens de serviço até 1948, na rota entre Austin e Carlos Sampaio, quando encerrou definitivamente suas atividades.
Esse foi o mesmo ano em que teve início a construção da Rodovia Presidente Dutra, também conhecida como Via Dutra, marcando o golpe final no já combalido transporte ferroviário. As rodovias assumiram o protagonismo no cenário nacional do transporte, e o Ramal de Austin, que um dia representou uma importante conexão ferroviária, tornou-se parte da história da região.
Com o passar dos anos, as lembranças do Ramal de Austin podem ter se desvanecido, mas é importante preservar essa história para que as futuras gerações possam apreciar e compreender a relevância desse antigo meio de transporte na formação da história do bairro de Santa Cruz.
REFERÊNCIAS
MANSUR, André Luiz. O velho Oeste carioca: história da ocupação da Zona Oeste do Rio de Janeiro (de Deodoro a Sepetiba) - Do Século XVI ao XXI: Volume 1. Rio de Janeiro: Íbis, 2008.
RODRIGUEZ, Hélio Suêvo. A formação das estradas de ferro do Rio de Janeiro: o resgate da sua memória. Rio de Janeiro: Memória do Trem, 2004.
http://www.estacoesferroviarias.com.br/. Acesso em: 10 ago. 2023
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