Feira livre
Feira livre
Texto por Keila Gomes
A feira livre carioca, criada em 13 de outubro de 1904, teve raízes profundas na cultura e no comércio locais. Posterior à “quitanda”, termo quimbundo que seria uma espécie de cesta tradicional na região angolana; ou “quinda”, como é chamada no Brasil, era usada para vender alimentos frescos, pelas ruas das pequenas vilas. Essa feira, estabelecida pelo Decreto 997 do mesmo dia, introduziu um novo modelo de abastecimento alimentar, substituindo as formas pitorescas herdadas do Rio colonial.
O cenário prévio era marcado por vendedores ambulantes e quitandeiras negras que percorriam as ruas com seus produtos. O Decreto foi uma estratégia de transição para a nova capital moderna, alinhada com a visão modernizadora do prefeito Pereira Passos. Os vendedores ambulantes e suas malas repletas de mercadorias caracterizavam o antigo cenário e, de alguma maneira, “enfeiavam” o cenário de modernidade e progresso que Pereira Passos queria alcançar.
A palavra "feira" tem sua origem no latim "feria", significando um “dia de festa”. Essa tradição cultural foi refletida nas feiras, onde as barracas, os produtos variados e as falas dos feirantes transformavam o espaço em um espetáculo alegre e animado de mercado.
Em 2023, a cidade conta com aproximadamente 160 feiras, distribuídas pelos bairros, conforme estabelecido pela Lei nº 492, de 1984. Essas feiras têm o propósito de suplementar o abastecimento semanal das comunidades, com verduras, legumes, frutas, pescados e aves abatidas. Contudo, ao longo dos anos, a diversidade de produtos expandiu-se consideravelmente, indo de peixes ornamentais a objetos antigos e roupas.
A feira livre de Santa Cruz acontece todas às terças-feiras, na rua Campeiro-Mor, das sete da manhã às duas e meia da tarde. Nesse ambiente, além dos itens tradicionais, é possível encontrar uma variedade surpreendente de produtos, desde artigos para aquários até itens colecionáveis e vestuário.
Assim, a feira livre do Rio de Janeiro, nascida em 1904, evoluiu ao longo do tempo, mantendo suas raízes históricas, mas adaptando-se às mudanças da sociedade e às necessidades dos consumidores. O espírito festivo e diversificado das feiras continua a ser um reflexo das tradições culturais que a originaram.
REFERÊNCIAS
ABREU, M. Evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar/IPLANRIO, 1987.
AMARAL, Rita de Cássia de Mello Peixoto. A formação da festa à brasileira. In: Festa à brasileira: significados do festejar, no país que não é sério. 1998. Tese (Doutorado em Antropologia Social ) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
CARVALHO, C. História da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1994. 125 p.
FEIRA em Santa Cruz, RJ. Encontra Santa Cruz, [s.d.]. Disponível em: https://www.encontrasantacruz.com.br/f/feira-em-santa-cruz-rj.shtml. Acesso em: 13 jun. 2023.
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