Paciência - Divisa com Santa Cruz
Paciência - Divisa com Santa Cruz
Texto por Guaraci Rosa
O bairro de Paciência teve sua fundação oficial em 23 de julho de 1981, uma data estabelecida pela administração municipal do Rio de Janeiro. No entanto, a história dessa localidade é centenária, remontando ao século XVI, com a presença da Companhia de Jesus, que mais tarde cedeu as terras para o Convento do Carmo.
Entretanto, a verdadeira narrativa da região começa a se consolidar com o surgimento da Fazenda do Engenho da Mata da Paciência, um extenso latifúndio que englobava os atuais bairros de Inhoaíba, Cosmos e Paciência.
Em 2 de janeiro de 1797, o português João Francisco da Silva e Sousa adquire as terras da Mata da Paciência por meio de arrendamento. Posteriormente, em 1803, ocorre uma troca de concessões com o Convento do Carmo. Embora as datas marcantes sejam do fim do século XVIII e início do século XIX, há indícios de que a fazenda já existia na década de 1780, período em que estava sob a administração do médico e capitão-mor português, João Carvalho de Vasconcelos.
A partir de 1815, após a morte de João Francisco, toda a propriedade passa a ser gerida por sua viúva, Mariana Eugênia Carneiro da Costa. Durante sua administração, sobressaem transformações significativas nas terras da Mata da Paciência. Destacam-se a aquisição de uma moderna máquina a vapor para o engenho e a construção do Engenho de Santo Antônio dos Palmares (na atual comunidade de Manguariba, às margens do rio Guandu-Mirim), entre outras iniciativas.
A fazenda se moderniza e se destaca nacionalmente, mas é importante mencionar que durante esse período, cerca de 200 pessoas escravizadas trabalhavam compulsoriamente nas terras da Mata da Paciência, gerando riqueza, enquanto enfrentavam condições precárias.
A presença da Estrada Real de Santa Cruz, atravessando a fazenda, facilitava a locomoção até aquele latifúndio. É importante lembrar que foram construídos os Marcos Imperiais em 1826. Dois deles, o Marco IX e o X, foram erguidos nas terras da Fazenda da Mata da Paciência. Ambos na atual avenida Cesário de Melo. Um (o de nº 9) em Inhoaíba e outro (o de nº 10) em Paciência.
Após o falecimento de Mariana Eugênia, em 1840, suas terras passam para suas filhas herdeiras, a Marquesa de Jacarepaguá e a Viscondessa de Mirandela. Nenhuma das duas demonstra interesse em manter a fazenda, levando-a a entrar em um período de decadência. Em 1846, a propriedade é adquirida pelo Padre José Ribeiro Gonçalves, que a vende em 1869 para José de Sousa Ribeiro. A família Ribeiro manteve a posse das terras por mais de quatro décadas.
Em 1897, inaugura-se uma parada de trens em Paciência, posteriormente transformada em uma estação ferroviária. Essa parada desempenha um papel fundamental no transporte de produtos agrícolas para o centro urbano do Rio de Janeiro.
Na década de 1930, uma parte significativa do território da Mata da Paciência se transforma em um vasto pomar de laranjeiras, sendo essa transformação atribuída em grande parte ao engenheiro civil, Oscar Pareto. Na verdade, seu filho, Omir Pareto, toca a produção de laranjas, de 1936 até a década de 1950. Nesse período, diversas propriedades rurais já existem na região, gerando conflitos territoriais.
A década de 1950 marca um ponto importante na história do bairro, pois é quando surgem os loteamentos do Jardim Sete de Abril, Vila Geni e Vila Alzira I, entre outros.
A partir dos anos 1960, observa-se uma melhoria gradual na infraestrutura do bairro, com a instalação de iluminação pública e sistemas de abastecimento de água em várias áreas. Com o passar dos anos, diversas comunidades emergem no bairro, como Divineia e Nova Jersey, porém enfrentando diversos desafios de infraestrutura.
A década de 1970 testemunha o surgimento de uma zona industrial no bairro, dividida em dois polos, um na avenida Cesário de Melo e outro na avenida Brasil.
Nas décadas de 1980 e 1990, o processo de urbanização se acelera, com a pavimentação de várias ruas, expansão das redes de abastecimento de água e construção de postos de saúde, entre outras melhorias. Gradualmente, o bairro perde seu caráter predominantemente rural.
Nos anos 2000, o setor comercial vivencia um crescimento exponencial, com diversas lojas de diferentes segmentos surgindo na área. O empreendedorismo floresce entre as famílias locais, à procura de melhores condições de vida.
Com o decorrer dos anos, a densidade populacional aumenta consideravelmente; no entanto, a infraestrutura não acompanha esse crescimento. Hoje em dia, o bairro enfrenta desafios significativos em relação ao saneamento básico, segurança, transportes, saúde e outros aspectos importantes que requerem investimentos substanciais.
Em 11 de novembro de 2017, nasceu a CAMEMPA (Casa da Memória Paciente), uma instituição sem fins lucrativos, localizada no bairro de Paciência, dedicada à pesquisa, divulgação e promoção da rica história que permeia o território da Mata da Paciência.
Conheça mais:
REFERÊNCIAS
TOV, Isra Toledo et al. Mata da Paciência: de legado carmelita a portento fluminense. Rio de Janeiro: Edição dos Autores, 2022.
TOV, Isra Toledo; ROSA, Guaraci. Casos matenses. Rio de Janeiro: Autografia, 2020.
TOV, Isra Toledo; ROSA, Guaraci; LAMEGO, Adinalzir. Os dois engenhos de Paciência. Rio de Janeiro: Autografia, 2019.
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