Avenida João XXIII
Os Conjuntos Residenciais da Avenida João XXIII
Texto por Guaraci Rosa
No Rio de Janeiro, a criação de conjuntos habitacionais destinados a pessoas em situação de pobreza tem sido uma medida crucial para combater a carência de moradia adequada que assola o Estado há décadas. Esta era a visão propagada pelo governo Chagas Freitas na década de 1970. No entanto, essa retórica populista apenas raspava a superfície dos problemas subjacentes, principalmente a profunda desigualdade social.
Traduzindo a intenção em ação, o fim da década de 1970 marcou o início da construção de inúmeras residências na avenida João XXIII (antiga Estrada Aterrado de Itaguaí) e seus arredores. Vale ressaltar que a orquestração desse empreendimento foi conduzida pela Companhia Estadual de Habitação (CEAHB).
Em 28 de março de 1980, foram oficialmente inaugurados o Conjunto Miécimo da Silva (homenagem a um político da Zona Oeste) e o Conjunto João XXIII (em homenagem ao Papa). Para celebrar essa inauguração, uma comitiva de políticos liderada pelo então Secretário de Obras, Emílio Ibrahim, esteve presente ao evento. O deputado estadual Pedro Fernandes (Pedrinho), representante de Santa Cruz, também participou do evento e, em seu discurso, enalteceu a figura política de Miécimo.
Durante esse discurso, o Secretário anunciou a aquisição de um terreno da Radiobrás, na estrada de Sepetiba, destinado à construção de um amplo conjunto habitacional. Dessa semente, nasceu a ideia do Conjunto Nova Sepetiba, cuja construção teve início apenas no fim da década de 1990, com a inauguração ocorrendo em 2000.
Nos anos subsequentes, uma série de conjuntos habitacionais surgiu ao longo da avenida João XXIII, ou em suas proximidades, como o Alvorada Novo Mundo, o Liberdade e o São Fernando, entre outros. Infelizmente, todos enfrentaram desafios relacionados à infraestrutura precária e segurança.
No ano de 2018, um grupo de jovens líderes dos conjuntos habitacionais ao longo da avenida João XXIII uniu forças, tomando a dianteira em uma série de reivindicações junto ao poder público. O epicentro de suas preocupações recaiu sobre uma multinacional siderúrgica, cujas operações degradaram de forma significativa o meio ambiente na localidade, resultando em sérios impactos na saúde e bem-estar dos inúmeros moradores locais.
Na atual conjuntura, apesar dos anos transcorridos, os conjuntos habitacionais de Santa Cruz ainda se veem às voltas com uma série de deficiências que abrangem áreas vitais como transporte, saúde, segurança, saneamento básico e educação. Tais carências fundamentais persistem como um desafio coletivo, um lembrete constante das batalhas travadas e das melhorias necessárias.
No entanto, é digno de nota que os habitantes desses conjuntos, resilientes e corajosos, mantêm um espírito de luta inabalável, mantendo-se firmemente engajados na busca por melhores condições de vida. Eles personificam uma comunidade que não se curva diante da adversidade, demonstrando uma notável capacidade de união e perseverança.
REFERÊNCIAS
INSTITUTO PACS. Moradores do RJ exigem de candidatos justiça social e ambiental para Santa Cruz. Jubileu Sul, set. 2018. Disponível em: https://jubileusul.org.br/noticias/moradores-do-rj-exigem-justica-social-e-ambiental-para-santa-cruz/. Acesso em: 21 ago. 2023
O DIA. Rio de Janeiro, 29 mar. 1980.
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