Morro do Chá
Morro do Chá
Texto por Keila Gomes
Morro do Chá, Morro do Ar ou Morro dos Chinas é uma localidade de Santa Cruz, a menos de meio quilômetro da antiga sede da Fazenda Imperial de Santa Cruz, localizado entre a estrada de Urucânia e a estrada da Boa Esperança. O local era conhecido como “cercadinho” pelos membros da família imperial, pois era lá que eles passeavam e que Leopoldina caçava animais e andava a cavalo nas suas inúmeras passagens pela Fazenda de Santa Cruz.
Era chamado de Morro do Chá por causa das centenas de homens que vieram de Macau, no leste da China, em condições sub-humanas, encarregados de cultivar chá, em um morro que, na verdade, atualmente está localizado na Vila dos Sargentos.
Os “chineses” (ou “chinas”) eram extremamente preconceituosos com os escravizados, e, por conta disso, existiam muitos conflitos e tumultos a que era necessário o uso da força policial. Exemplo disso foi uma ocorrência, em 1816, entre os “chinas” (como eram, mais comum e discriminatoriamente, chamados) e os escravizados da Fazenda de Engenho da Mata da Paciência (propriedade de Mariana Eugênia Carneiro da Costa). Na carta escrita pelo administrador de Santa Cruz, esse “desagradável acontecimento” era recorrente. Já que existia um certo preconceito entre ambas as partes. Fato que comprova que as brigas entre chineses e escravizados eram constantes. Os escravizados eram descritos como “os escravos pretos diabos dos países atlânticos”.
O cultivo do chá não deu certo por causa das condições climáticas de Santa Cruz e pelo costume cultural, ao contrário do chá indiano (preto e com açúcar a que os brasileiros e portugueses estavam acostumados), o tipo cultivado aqui em Santa Cruz era o verde, que tinha o sabor mais amargo.
Com a Proclamação da República, em 1889, a Fazenda Imperial vira Fazenda Nacional e, em 1911, foi cedido o aforamento do território para Lindolfo Ferreira Pimentel.
Ao contrário de outros lugares distantes do chamado “centro de Santa Cruz”, essa região do chá não foi loteada pela CEHAB, e, sim, por foreiros e posseiros da época.
Um personagem histórico conhecido no Morro do Chá, que ficou muito popular no bairro, é o “Seu” Elias, grande artista de máscaras de papel marchê, muito utilizada nos carnavais de Santa Cruz até meados dos anos setenta.
REFERÊNCIAS
CASTILHO, G. A. de. O ultra esplêndido carnaval na Terra das Maravilhas: As artes visuais na festa de Momo do subúrbio de Santa Cruz (1904-1980). 2019. Tese (Mestrado em Lingüística, Letras e Artes) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.
FREITAS, Benedicto. Santa Cruz: Fazenda Jesuítica, Real, Imperial. Volume III. Edições do Autor. Rio de Janeiro, 1987.
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