Vila Paciência - Favela do Aço
Vila Paciência - Uma história de resiliência
Texto por Guaraci Rosa
Os primeiros indícios de remoção de favelas no Rio de Janeiro datam dos anos 1920, quando os residentes do Morro Santo Antônio, no Centro do Rio, foram expulsos para o governo abrir caminho à urbanização. Esse marco inaugurou um processo de deslocamento de habitantes considerados "indesejáveis" de suas moradias. Inicialmente, nas décadas seguintes, esse processo ocorreu de forma gradual, mas foi nos anos 1960 que testemunhamos o surgimento de uma política oficial de remoções.
Em 1962, nasceu a Companhia de Habitação Popular do Estado da Guanabara (CEHAB-GB), conhecida hoje como CEHAB-RJ. Posteriormente, em 1964, surgiu o Banco Nacional de Habitação (BNH), que passou a assumir o financiamento das construções. Inicialmente, a CEHAB financiava conjuntos habitacionais e, com o tempo, o BNH assumiu essa responsabilidade.
É nesse contexto que emerge a história da Vila Paciência. Situada originalmente no bairro de Paciência, uma alteração cartográfica realocou a comunidade para Santa Cruz. Em 1967, foi "inaugurada" a parte baixa da vila, composta por 52 blocos com 10 casas cada um. A peculiar forma dos blocos, assemelhando-se a vagões de trem, logo lhes rendeu o apelido de “vagão”, por parte dos moradores.
“Tais moradias eram elevadas a cerca de meio metro do solo, sustentadas por pequenos pilares de tijolo. Cada corredor abrigava cinco casas de cada lado” (Saliby). Em 25 de julho de 1967, os primeiros habitantes chegaram ao conjunto. Eram 61 famílias, totalizando 455 pessoas que outrora viviam em condições precárias na Fazenda Modelo, na estrada do Mato Alto, na Ilha de Guaratiba. Eram pessoas que haviam sido desalojadas de diversas favelas no Rio, todas oriundas da miséria.
A parte alta do conjunto foi inaugurada em 1971, consistindo em 100 blocos com 8 casas cada um, variando entre unidades de 2 quartos e 1 quarto. Tanto na parte baixa quanto na parte alta, inúmeras casas foram entregues sem emboço.
Vale ressaltar que o governo estadual classificou essas moradias como "provisórias", proibindo qualquer tipo de acréscimo à estrutura. As famílias não possuíam direitos de propriedade sobre as casas que habitavam.
No momento da "inauguração" do conjunto, não existiam escolas, postos de saúde, saneamento básico ou transporte adequado. A presença policial se resumia a um único posto. Apenas na década de 1970 uma escola foi estabelecida na comunidade. Os moradores caminhavam quase um quilômetro para acessarem meios de transporte.
Ao longo dos anos 1960 e boa parte da década de 1970, numerosas famílias foram reassentadas na Vila Paciência. O discurso oficial era repetitivo: "Isso é apenas provisório...".
Na década de 1970, os jornais registravam altos índices de mortalidade infantil no bairro. Com o tempo, a violência aumentou, e poderes paralelos disputaram o controle da comunidade, agravando ainda mais a situação.
Após mais de cinco décadas de existência, a Vila Paciência ainda enfrenta a negligência do poder público. O que fora originalmente concebido como "provisório" se tornou a realidade permanente para centenas de famílias, representando uma história de resiliência em meio a desafios diários.
Atualmente, os residentes desta região perseveram na busca por aprimoramentos em sua qualidade de vida. Essa determinação se manifesta tanto no âmbito individual, refletida em seus esforços profissionais, quanto no âmbito coletivo, onde unem forças para promover melhorias em toda a comunidade.
Conheça mais:
REFERÊNCIAS
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 26 jul. 1967.
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 26 jul. 1967.
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