Fundação da Vila de São Paulo de Piratininga e do Colégio Jesuíta
Resumo
Fundação da Vila de São Paulo de Piratininga e do colégio jesuíta, cujo local foi indicado pelos indígenas.
Sugestão para o Professor
Se é verdade que os conhecimentos indígenas determinaram a escolha do local de fundação da futura cidade de São Paulo, essa escolha foi orientada por fatores diversos. A questão não era apenas abundância de recursos alimentares, como fartura de peixes, mas também estratégica: a colina localizava-se no entroncamento de extensas trilhas de comunicação terrestre que ligavam os indígenas do planalto a povos aliados do litoral e também do sertão. Esses caminhos também serviam para a peregrinação religiosa e como locais de preambulação em busca de caça. O mais famoso deles era o chamado Peabiru, conectando a costa do Atlântico à costa do Pacífico, com cerca de 3 ou 4 mil quilômetros de extensão. "Formada de um tronco e várias ramificações, uma delas atingia a região vicentina, regularmente freqüentada pelos tupiniquins, moradores do planalto paulistano. Consistindo numa picada de 200 léguas (1200 km) de extensão, este último ramal, segundo a descrição do Padre Lozano S. J., possuía oito palmos de largura (1,76m) e seu leito, forrado por uma gramínea que impedia o crescimento de outra vegetação, apresentava um rebaixamento de 40 centímetros em média em relação ao solo adjacente. Posteriormente chamada pelos jesuítas de Caminho de São Tomé (identificado com Sumé, o herói civilizador do mito tupi), a famosa trilha permitiu que, em sentido contrário, a partir da costa brasileira os conquistadores atingissem o Paraguai e desse ponto fosse possível alcançar as fabulosas riquezas do longínquo Peru" (CAMPOS, 2006, p. 14-15).
Detalhamento
Uma missão jesuítica, liderada pelos padres José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, subiu a serra do Mar para fundar a vila de São Paulo de Piratininga - o primeiro núcleo urbano criado no interior da América portuguesa. Na colina pouco elevada escolhida para sediar o colégio jesuíta, estavam assentadas tribos tupiniquim consideradas amigas dos portugueses. A intenção dos jesuítas era catequizá-las (CAMPOS, 2006). Aliás, o local escolhido para a fundação do colégio teria sido indicação desses indígenas, que conheciam a região há milênios, suas riquíssimas possibilidades alimentares e as vantagens que possuía em termos de defesa do território. A colina era rodeada pelo rio Tamanduateí e pelo Ribeirão Anhangabaú. Mais ao norte estava o rio Tietê. As cheias regulares do Tamanduateí criavam extensas várzeas ao longo de seu curso, onde encalhavam inúmeros peixes quando as águas voltavam ao seu nível normal. Na sequência, os peixes morriam e secavam ao sol. Daí o primeiro nome de que se tem notícia para a designação nativa desse rio: "Piratininga" - do tupi, "peixe seco". Isso demonstra "o quanto a sobrevivência dessas tribos estava ligada à ocorrência de suas várzeas. A própria designação "Tamanduateí" faz menção ao mesmo fenômeno, pois um grande número de tamanduás podia ser visto ao longo das margens abandonadas temporariamente pelas águas que retomavam seu nível normal, alimentando-se das formigas que se aglomeravam em torno dos peixes mortos" (ZAGNI, 2004 apud GOUVEIA, 2016).
Curiosidades
Você sabia que o processo de urbanização da cidade de São Paulo esteve (e ainda está!) intimamente ligado aos cursos d'água dessa região? A respeito disso, ver o excelente documentário Entre Rios (Caio Silva Ferras, 2009, 25' 10"), disponível em https://vimeo.com/14770270
Você sabia que, muito antes da chegada dos colonizadores europeus, os indígenas do planalto paulistano já dominavam conhecimentos altamente complexos a respeito da geografia sul-americana e dos recursos naturais presentes na serra do Mar, sem os quais os portugueses não teriam sobrevivido nessa região? A respeito disso, ver o excelente documentário De Paranapiacaba ao Peabiru (Ale Oshiro, 2021, 57' 16").
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=UVHVDNzxRtA
Referências
CAMPOS, Eudes. A vila de São Paulo do Campo e seus caminhos. Revista do Arquivo Municipal / Departamento do Patrimônio Histórico. Ano 1, nº 1, 2006.
GOUVEIA, Isabel Cristina Moroz-Caccia. A cidade de São Paulo e seus rios: uma história repleta de paradoxos. Confins, n. 27, 2016.
TORRÃO FILHO, Amilcar. A cidade como redenção: natureza e cultura nos Campos de Paratininga. In: MARTINEZ, Paulo Henrique (org.). História ambiental paulista: temas, fontes, métodos. São Paulo: SENAC, 2007.
Conexão
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