O caso Ruschi
Resumo
O "caso Ruschi" mobilizou a sociedade civil e a mídia nacional ao redor de um pequeno fragmento de Mata Atlântica, contribuindo para o incipiente movimento ambientalista brasileiro.
Detalhamento da linha do tempo do estudante
Em 1977 houve uma disputa acirrada pela propriedade das terras da Estação Biológica de Santa Lúcia (EBSL), na época uma área de 280 hectares localizada no município de Santa Teresa, interior do Espírito Santo. O naturalista Augusto Ruschi (1915-1986), mundialmente famoso por suas pesquisas com beija-flores, acusava o governo de Élcio Álvares (ARENA-ES) de querer se apropriar daquele remanescente de Mata Atlântica e liberá-lo para a extração de palmito. Nessas terras, Ruschi havia realizado dezenas de pesquisas desde 1939. Segundo ele, a propriedade havia sido adquirida nos anos 1940-1950 pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ), instituição na qual ele trabalhava como professor, sendo responsável também pela administração da EBSL. O governo estadual afirmava que as terras eram devolutas - portanto, propriedade do Estado. Fato é que Ruschi moveu uma grande campanha política e midiática contra a administração Álvares que, pressionada, teve que assinar um convênio com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, gestora do MNRJ, abrindo mão da posse definitiva do lugar. A disputa foi apelidada pela imprensa nacional de “o caso Ruschi” e contou com uma grande mobilização da sociedade civil brasileira. Certamente, esse episódio foi um marco importante para a conservação de áreas protegidas e, especialmente, para sensibilizar a sociedade em relação a pautas ambientais.
Curiosidades
1- Em 1977, Augusto Ruschi ameaçou matar qualquer pessoa que tentasse entrar à força na EBSL. Por "qualquer pessoa" leia-se o governador do Espírito Santo também. Já pensou, ameaçar de morte, publicamente, a maior autoridade de um estado? E mais, em plena ditadura militar?
2 - Élcio Álvares GCMM (Ubá, 28 de setembro de 1932 – Vitória, 9 de dezembro de 2016) foi um professor, advogado, sociólogo e políticobrasileiro filiado ao Democratas (DEM). Foi ministro da Indústria durante o governo Itamar Franco e ministro da Defesa durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Pelo Espírito Santo, foi governador, senador, deputado federal e presidente da Assembleia Legislativa durante seu período como deputado estadual. Foi deputado federal pelo Espírito Santo (1970-1975), governador do estado (de 15 de março de 1975 a 15 de março de 1979), senador (1991-1994; 1995-1999), ministro de Indústria e Comércio (1994), no governo de Itamar Franco e ministro da Defesa (1999-2000), no governo de Fernando Henrique Cardoso, cargo que foi obrigado a deixar sob denúncias de corrupção e favorecimento, inclusive de ligações com o crime organizado no Estado do Espírito Santo. Admitido à Ordem do Mérito Militar em 1994 no grau de Grande-Oficial especial por Itamar, Élcio foi promovido em 1999 por FHC ao último grau da Ordem do Mérito Militar, a Grã-Cruz especial. Em 2006 elegeu-se Deputado Estadual pelo PFL. Reeleito em 2010, pelo DEM, para mais um mandato de Deputado Estadual. Foi Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo entre 1 de fevereiro de 2009 a 31 de janeiro de 2011. Morreu em 9 de dezembro de 2016, aos 84 anos, em decorrência de insuficiência renal, após ficar três meses internado. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89lcio_%C3%81lvares
Figura 96 - Élcio Álvares, 1975.
3 - Os beija-flores, também conhecidos como colibris, estavam entre as maiores paixões do patrono da ecologia brasileira: o pesquisador e conservacionista Augusto Ruschi. Essas aves pertencem à família Trochilidae e possuem ocorrência restrita às Américas. Atualmente são reconhecidas 363 espécies distribuídas desde o Canadá até o sul da América do Sul. O Brasil abriga 89 dessas espécies, 54 delas com ocorrência na Mata Atlântica. A cidade onde vivia Augusto Ruschi, Santa Teresa, no Espírito Santo, é conhecida como a Terra dos Colibris. Nela, há registro da ocorrência de mais de 20 espécies dessas aves.
Mas, além de carismáticas, o que há de tão especial nessas criaturinhas? Essas pequeninas aves estão entre os menores vertebrados do mundo. No Brasil, as menores espécies são o topetinho-vermelho (Lophornis magnificus), que pesa entre 1,5 e 2,8 g, o chifre-de-ouro (Heliactin bilophus), que pesa entre 1,8 e 2 g, e o rabo-branco-rubro (Phaethornis ruber) que pesa entre 1,8 e 2,5 g. Por outro lado, a maior espécie brasileira é o amazônico beija-flor-brilho-de-fogo (Topaza pella) de aproximadamente 18 g.
Os beija-flores ainda chamam atenção por suas cores iridescentes (resultado da difração e reflexão da luz de acordo com a posição com que os raios solares atingem as penas) com tons metálicos e coloridos. Também fascina a sua capacidade de pairar no ar, dada pelo número de vezes que o beija-flor consegue bater as asas por segundo. Quanto menor a espécie, mais vezes ela consegue bater as asas num curto espaço de tempo. O já citado topetinho-vermelho, por exemplo, chega a bater as asas 58 vezes por segundo.
Com tamanho gasto energético, esses animaizinhos são os representantes das aves que possuem o maior peso relativo do coração, variando entre 1,9 e 2,5% do seu peso total. A título de comparação, nos humanos o coração representa cerca de 0,5% do peso total. Também possuem o pulmão e os sacos aéreos bem desenvolvidos. Quando em repouso, sua frequência respiratória chega a 260 inspirações por minuto. Durante o voo, estima-se que a circulação sanguínea seja 100 vezes mais rápida que a dos homens.
Figura 97 - Lophornis magnificus (topetinho-vermelho)
Figura 98- Heliactin bilophus
Figura 99 - Phaethornis ruber
Figura 100 - Topaza pella
Figura 101 - Casa da Moeda do Brasil
Referências
GONÇALVES, Alyne dos Santos; FERNANDEZ, Felipe S. Conflito pelo uso da terra e proteção à natureza no Espírito Santo: o caso da Estação Biológica de Santa Lúcia. In: Boletim de Biologia Prof. Mello Leitão - Série INMA, nº 1 (no prelo).
MOREIRA-LIMA, L. 2013. Aves da Mata Atlântica: riqueza, composição, status, endemismos e conservação. 2013. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
RURSCHI, P.A., & SIMON, J.E. (2012). Hummingbirds of Santa Teresa, State of Espírito Santo, Southeastern Brazil. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão (Nova Série.), 29, 31-52.
SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1997.
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