Fundação da Aracruz Florestal (futura subsidiária da Aracruz Celulose S. A.)
Resumo
A empresa Aracruz Florestal S. A. foi fundada em 1967 a partir de incentivos fiscais federais para o plantio de eucalipto e pinheiro (1966) e da compra de mil km² no litoral norte do estado do Espírito Santo.
Sugestão para o professor
O professor pode promover debate sobre o que é o reflorestamento e como ele pode/deve ser feito.
Detalhamento da linha do tempo do estudante
A Aracruz Florestal S. A. foi fundada em 25 de janeiro de 1967 por um grupo de empresários nacionais interessados em aproveitar as vantagens fiscais conferidas pela Lei n° 5.106/66. Em 1972, foi constituída a empresa Aracruz Celulose S. A., que incorporou a primeira como sua subsidiária (LOUREIRO, 2006, p. 93-95). Em 1973, a Aracruz Celulose começou a construção de uma unidade de fabricação de polpa de celulose, com capacidade para produzir 400 mil toneladas/ano. "Seus diretores destacavam que a monocultura florestal plantada era a única alternativa economicamente viável à destruição do que restava da floresta nativa do Brasil" (Dean, 1996, p. 328).
Deserto Verde
Ao viajarmos por nosso país, de carro ou avião, frequentemente podemos cruzar extensas florestas formadas, muitas vezes, por árvores enormes e praticamente idênticas. À primeira vista, estas paisagens podem até nos confortar, causando a falsa sensação de natureza bem preservada. Mas, ao removermos a lente da ingenuidade, o sentimento se torna outro. Essa contradição de sensações também é expressa no batizado dessas áreas com um nome um tanto quanto, inicialmente, contraditório: Deserto Verde!
Na realidade, florestas bem preservadas estão cada dia mais raras em nosso país, ao passo que essas florestas de árvores idênticas – monoculturas – estão expandindo a franco vapor. As monoculturas estão estreitamente ligadas à história de nosso país, tendo sido, algumas delas o cerne de ciclos econômicos históricos: ciclo da cana-de-açúcar e ciclo do café, por exemplo. Mais recentemente, já na segunda metade do século XX, essa história ganhou uma nova página com o fortalecimento da produção de papel e celulose no Brasil e expansão das plantações de árvores lenhosas, sobretudo eucalipto e pinus.
Mas afinal, qual a justificativa desse nome? Qual a semelhança dessas florestas artificiais em relação aos desertos? As paisagens desérticas, em geral, tendem a ser mais homogêneas, com pouca variação. O mesmo ocorre nas monoculturas que, como o próprio nome transparece, é a cultura de um único cultivo: a paisagem também é sempre a mesma. Em uma plantação de eucalipto, por exemplo, as árvores tendem a serem dispostas em fileiras com cada muda igualmente espaçada uma da outra e possuindo o mesmo porte, já que possuem a mesma idade. Outro aspecto que faz jus ao nome é o processo de desertificação das terras. Para sustentarem o rápido crescimento e grande porte, é necessária elevada absorção de água, podendo, com isso, comprometer nascentes e lençol freático, afetando os recursos hídricos de toda região. A prática de um único cultivo ainda pode exaurir determinados nutrientes do solo e, somada ao uso excessivo de defensivos, agravar o processo de desertificação. Além disso, essa homogeneização das paisagens também reduz substancialmente a disponibilidade de microambientes específicos, inviabilizando a ocorrência de diversas espécies da fauna e flora e acarretando drástica redução da biodiversidade. Por fim, também não podemos fechar os olhos para os problemas socioambientais decorrentes dessa prática, como concentração de terras e êxodo rural.
Por outro lado, é importante avaliarmos a condição de uma área antes da implantação da monocultura. Não é possível medir com uma mesma régua, por exemplo, situações em que a floresta nativa tenha sido desmatada em detrimento do monocultivo, em relação aos Desertos Verdes que tenham sido implantados onde antes só havia pasto: são impactos e situações bastante diferentes! Nesse segundo caso, por exemplo, alguns setores tentam, inclusive, defender que esse tipo de monocultura seria benéfico ao meio ambiente, já que contribuiria para o sequestro de carbono e “reflorestamento” de áreas degradadas.
Importante! Antes de pintarmos as indústrias de papel e celulose como grandes vilãs ambientais, é fundamental termos em mente a importância dessas para a economia nacional e para nosso modo de vida como um todo: imaginem só nossa vida sem papel? Por outro lado, não podemos ser ingênuos e fechar os olhos para todos os problemas decorrentes dos Desertos Verdes. A busca por alternativas mais amigáveis socio-ambientalmente são necessárias e, mais do que tudo, urgentes!
Curiosidade
Você sabia que existe uma diferença importante entre "florestamento" e "reflorestamento"? Sem grandes pormenores, pode-se dizer que "florestar" é plantar uma floresta "nova", diferente daquela anteriormente existente ou mesmo em local onde originalmente sequer havia floresta. Enquanto que "reflorestar" é, por assim dizer, "imitar a natureza" (ou ao menos tentar!), buscando recriar uma floresta derrubada, o mais próximo possível de suas características originais. Pensando dessa maneira, será que o plantio de florestas de rendimento econômico (com as de eucalipto, por exemplo) pode ser chamado de "reflorestamento"?
Referências
DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
GONÇALVES, Alyne dos Santos. A "caixa-preta"da eucaliptocultura: controvérsias científicas, disputas políticas e projetos de sociedade. Projeto História, São Paulo, v. 65, pp. 380-415, Mai.-Ago., 2019. Disponível em https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/42309
LOUREIRO, Klítia. O processo de modernização autoritária da agricultura no Espírito Santo: os índios Tupiniquim e Guarani Mbya e a empresa Aracruz Celulose S/A (1967-1983). Dissertação (Mestrado em História). Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações Políticas – Universidade Federal do Espírito Santo, 2006.
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