A mineração, a lavoura e a pecuária

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Resumo

Auge da extração e exportação de ouro das Minas Gerais. A mineração, a lavoura e a pecuária podem ter eliminado cerca de 30 mil km² de Mata Atlântica.

Sugestão para o Professor

O professor pode trabalhar a ocupação da Mata Atlântica pelo gado bovino, uma espécie "alienígena", trazida de Portugal, bem como a formação de pastos por meio da compactação do solo de floresta feita pelo próprio gado, pastando livremente, ou por meio da ação do fogo, com a consequente diminuição dos nutrientes no solo etc.

Sugestão de leitura

Oeco - A dupla da devastação (A Ferro e Fogo II) - https://oeco.org.br/colunas/17218-oeco-12707/

Sugestão de vídeo

Repórter Eco - Entenda o impacto da criação de gado sobre o meio ambiente - https://www.youtube.com/watch?v=FqSasnpaokc

Detalhamento

Nesse período, a América portuguesa viveu o auge da extração e da exportação do ouro das Minas Gerais. Uma das consequências mais impactantes desse processo foi o aumento do afluxo de pessoas para as regiões mineradoras, tanto de indivíduos escravizados quanto de gente livre: as estimativas apontam para uma entrada anual de cerca de 10.000 portugueses ao longo da primeira metade dos setecentos. Com uma média de crescimento de 1,8% ao ano, essa população chegou a cerca de 1.800.000 indivíduos em 1800. Evidentemente, o aumento dessa população significou o aumento da demanda por comida. Daí a expansão da fronteira agrícola e da pecuária, já que a carne bovina era a principal fonte de proteína das vilas mineradoras (Dean, 1996, p. 131).

Pecuária

Já parou para pensar que, no Brasil, existem mais bois e vacas do que gente? Segundo o IBGE, em 2021, nós dividíamos o país com cerca de 224 milhões de cabeças de gado. Não foi da noite para o dia, é claro, que chegamos a esse cenário. A história da pecuária brasileira tem início praticamente a partir da primeira invasão europeia, quando as primeiras reses foram trazidas de Cabo Verde ainda no início do século XVI, devendo sua expansão à ampla extensão do nosso território, somada ao clima favorável para a implantação de pastagens. Segundo o historiador José Augusto Pádua (em coluna datada de 2005 na revista Oeco), aproximadamente 25% do território brasileiro (cerca de 200 milhões de hectares) é utilizado como pasto de abastecimento à pecuária extensiva.

Apesar de considerada fundamental para a economia (mercado interno e externo) e dieta do povo brasileiro, essa tradição pecuarista, infelizmente, também veio acompanhada de diversos impactos ambientais ao longo de sua história. No Brasil colônia, diversas áreas de pastagem natural foram completamente degradadas. A utilização do fogo para “renovação” dos pastos também danificou bastante a fauna, flora e solo desses ambientes. Com a rápida exaustão dessas áreas naturais, o desmatamento acelerado entrou em cena, contribuindo para a expansão de fronteiras agrícolas, bem como para o fortalecimento do processo de colonização e povoamento do país. Além da redução direta da biodiversidade decorrente do desmatamento, o intenso pisoteio do rebanho também contribui para a compactação do solo, favorecendo processo de erosão e dificultando ainda mais sua futura recuperação. A partir do século XX, as discussões sobre efeito estufa e aquecimento global passaram a ganhar cada vez mais espaço e, novamente, a pecuária extensiva não ficou de fora. Além do desmatamento contribuir para a emissão de gás carbônico na atmosfera, o processo digestivo do rebanho bovino ainda gera metano, um gás de forte efeito estufa. Não é possível desconsiderar, também, todos os impactos indiretos decorrentes da cultura pecuarista, como, por exemplo, todos aqueles decorrentes das monoculturas de grãos, como soja e milho, cuja principal finalidade está voltada à produção de ração bovina.

Para amenizar esses impactos, novas alternativas vêm sendo testadas e aplicadas, como a integração da pecuária com cultivos variados, ou a prática de criação intensiva que demande menos áreas de pastagens. Trata-se de um quadro de difícil reversão, sobretudo se não revermos nossa relação com o consumo de carne. Apesar de ser um hábito biológico e importante fonte de proteína para muitos, é importante refletirmos e nos posicionarmos criticamente sobre alguns pontos, dentre eles: por mais que sigamos comendo carne bovina, será mesmo que precisamos fazer isso com a intensidade e frequência com que temos feito? Ou ainda: até quando seguiremos comprando e comendo carne sem questionarmos sua procedência?

Curiosidades

A saúva reforçou "o engodo da floresta virgem como necessária para o desenvolvimento da lavoura" (Dean. 1996, p. 124-127). Embora os relatos de roças destruídas pelas formigas cortadeiras remontem ao século XVI, com a descrição de colonos desesperados tentando, em vão, exterminá-las com emprego do fogo, "a quantidade de registros históricos concernentes às cortadeiras aumenta muito a partir do século XVIII: é nessa centúria que a agricultura comercial para abastecimento interno conhece um espantoso crescimento. [...] Derrubar e queimar a floresta constituía o modus operandi dos pequenos agricultores mestiços, ou “roceiros”, que supriam o grosso da demanda por farinha de mandioca das minas, plantações, vilas e cidades" (CABRAL, 2014/2015, p. 99). Ocorre que, essas formigas constroem seus ninhos em câmaras subterrâneas (daí a ineficácia do fogo para combatê-las) ligadas por túneis, onde cultivam fungos, dos quais se alimentam. As folhas que cortam na superfície são levadas para o interior desses ninhos para alimentar os referidos fungos, os quais crescem melhor, por sua vez, em solos mais ácidos e empobrecidos. Como a principal consequência da técnica de derrubada-queimada é, no médio prazo, o aparecimento de solos empobrecidos de elementos básicos (Ca2, Mg2, K), a tendência é que as colônias de saúvas se desenvolvam ainda mais e melhor nesse ambiente degradado. Não à toa, fontes dos séculos XVIII e XIX reportam o despovoamento de áreas inteiras dominadas pelas saúvas, como três povoações próximas à freguesia de Santo Amaro, no Recôncavo baiano, que em 1757 tiveram que se mudar para "outra freguesia de matos novos" (citado por CABRAL, p. 100).

Referências

CABRAL, Diogo C. 'O Brasil é um grande formigueiro’: território, ecologia e a história ambiental da América Portuguesa –parte 2. HALAC. Belo Horizonte, v. IV, n.1, setiembre 2014-febrero 2015, p.87-113.

DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

IBGE - Rebanho de Bovinos (Bois e Vacas). IBGE. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/explica/producao-agropecuaria/bovinos/br

TEIXEIRA, J. C., HESPANHOL, A. N. A trajetória da pecuária bovina brasileira. Caderno Prudentino de Geografia, Presidente Prudente, n.36, v.1, jan./jul 2014, p.26-38. Disponível em: https://revista.fct.unesp.br/index.php/cpg/article/view/2672

VESCHI, J. L. A.; BARROS, L. S. S.; RAMOS, E. M. Impacto ambiental da pecuária, 2010. Disponível em: https://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/875506/1/Josir.pdf

WUST, C.; TAGLIANI, N.; CONCATO, A. C. A pecuária e sua influência impactante ao meio ambiente. VI Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental. Porto Alegre/RS, 2015.Disponível em: https://www.ibeas.org.br/congresso/Trabalhos2015/V-025.pdf

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Published in 7/07/2023

Updated in 26/07/2023

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