Publicação do livro: Duas Viagens ao Brasil

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Resumo

Publicação do livro Duas Viagens ao Brasil, de Hans Staden - a primeira narrativa em forma de livro sobre a natureza e os habitantes da América portuguesa. 

Sugestão para o Professor

Para o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, a antropofagia era um importante ritual funerário cultivado entre diferentes povos indígenas, o qual representava o imperativo da vingança na organização dessas sociedades, aquilo que os movia desde o nascimento até à guerra contra os inimigos, proporcionando-lhes prisioneiros para serem mortos na praça da aldeia. Seus nomes eram incorporados por aqueles que os devoravam, bem como sua força e bravura. Em caso de derrota, os perdedores deveriam ser igualmente devorados ritualisticamente por seus inimigos, os únicos capazes de lhes dar a mais digna das mortes. Os prisioneiros de guerra eram muito bem tratados por seus captores; às vezes, conviviam com eles por meses a fio e, eventualmente, até recebiam deles uma esposa. Segundo Viveiros de Castro, diferentemente dos europeus que sentiam a necessidade de desumanizar a pessoa do indígena ou do africano para, então, escravizá-la, os povos nativos procuravam tratar seus prisioneiros de guerra como um igual, inclusive aumentando sua dignidade, a qual seria incorporada por meio do ritual antropofágico.

O/A professor/a pode trabalhar com o quadro Abaporu (Tarsila do Amaral, 1928), que inspirou o Movimento Antropofágico, juntamente com o Manifesto Antropófago (Oswald de Andrade, 1928), explorando suas influências sobre o movimento cultural do Tropicalismo, nos anos 1960, e, mais recentemente, sobre a perspectiva teórica e política do pensamento decolonial.

Detalhamento

Em 1549, o mercenário alemão Hans Staden viveu grandes aventuras e desventuras em regiões dos atuais estados de Pernambuco, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Contratado como artilheiro por colonos portugueses para defender o Forte de São Filipe da Bertioga, próximo à vila de São Vicente, seu navio naufragou antes de chegar ao destino, na altura de onde hoje fica Angra dos Reis, Rio de Janeiro. Staden nadou até a praia e, ao se embrenhar na mata, foi capturado por Tupinambás, entre os quais viveu como prisioneiro durante 9 meses, até conseguir fugir. De volta à Europa, publicou a primeira narrativa em forma de livro com informações sobre a América portuguesa. O título original dessa obra é "História Verdadeira e Descrição de uma Terra de Selvagens, Nus e Cruéis Comedores de Seres Humanos, Situada no Novo Mundo da América, Desconhecida antes e depois de Jesus Cristo nas Terras de Hessen até os Dois Últimos Anos, Visto que Hans Staden, de Homberg, em Hessen, a Conheceu por Experiência Própria e agora a Traz a Público com essa Impressão. Seu relato transformou-se no primeiro bestseller da história europeia, com grande repercussão entre os círculos leitores. O livro ganhou diversas edições e causou impacto social, moldando as primeiras impressões sobre a natureza e os habitantes do Novo Mundo, a partir de então percebidos como exóticos e bárbaros. Além das descrições e ilustrações de animais fantásticos, plantas exóticas e hábitos indígenas, o livro ficou particularmente famoso pela detalhada descrição da prática da antropofagia entre os indígenas, contribuindo para a formação do imaginário europeu sobre o Brasil como um país de selvagens, gente bárbara e violenta.

Curiosidades

Durante os primeiros séculos coloniais, a prática da antropofagia caracterizava os povos nativos, aos olhos dos europeus, como bárbaros infiéis e perigosos. Mas, veja só como o mundo dá voltas: você sabia que, no início do século XX, o ritual antropofágico é retomado pelos modernistas brasileiros e ressignificado como sinônimo de criatividade e originalidade cultural? Veja o Manifesto Antropófago, publicado por Oswald de Andrade em 1928,  Por meio desse manifesto, os artistas brasileiros eram conclamados a celebrar nosso multiculturalismo, nossa capacidade de assimilar a cultura estrangeira, de misturá-la aos nossos referenciais e dar origem a algo absolutamente novo.

Para ver o Manifesto Antropófago acesse: https://digital.bbm.usp.br/bitstream/bbm/7064/2/Anno.1_n.01_45000033273.pdf

Referências

ANDRADE, Oswald. “Manifesto Antropófago”. Revista de Antropofagia, São Paulo, ano I, nº 1, maio 1928.

AZEVEDO, Beatriz; FRANCIS, Laura. Será esse o futuro do século XXI? Das Questões[S. l.], v. 11, n. 1, 2021. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/dasquestoes/article/view/37258. 

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela e VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. "Vingança e temporalidade: os Tupinambás", Journal de la Société des Américanistes1985, Volume 71, Nº 1, p 191–208. Anuário Antropológico/85, Tempo Brasileiro,1986. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=o_9Rhqxfa9s&t=6s

STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil. [Audiobook]. Instituto Martius-Staden. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=o_9Rhqxfa9s&list=PL7oggKmBQxmny3qYkx2JjJVAAX2BAe8Th

Conexão

Carta de São Vicente

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Published in 7/07/2023

Updated in 26/07/2023

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